Realmente, estou começando a ficar démodé. Démodé, é bom explicar, é um
termo que se usa para designar coisas que estão fora de moda, arcaicas, assim
como o uso de expressões tipo “démodé” e “arcaicas”. A gente vai se tornando
démodé não só pelo passar dos anos, que vão estalando laçaços cada vez mais
fortes nas nossas costas, mas especialmente por não conseguir mais acompanhar
com a mesma destreza de outrora (biip... detector de termo démodé em ação) a
absorção de novos babados (biip) comportamentais.
Percebo isso no gestual. Em tempos passados, era muito maneiro (biip)
fazer gestos como “positivo” (punho fechado, polegar para cima, balançando um
pouquinho), “paz e amor” (mão fechada, dedos indicador e médio rijos e ao alto,
separados, em forma de “V”) ou “ok” (dedos indicador e polegar unidos pelas
pontas fazendo um círculo, com o resto da dedaiada lá atrás aberta em leque de
pavão) para comunicar de longe que tudo estava bem, obrigado (uma perigosa inclinação
de ângulo do sinal de “ok” deturpa tudo e passa a indicar exatamente o
contrário, como bem sabe quem já o usou contra algum desafeto, sendo
aconselhável, após o uso, esquecer os dedos e colocar as pernas para correr).
Hoje em dia, esses gestos todos estão meio esquecidos, relegados (biip)
ao passado, abrindo caminho para o surgimento de símbolos criados pelas novas
gerações, aos quais sofro para me adaptar. Não consigo, por exemplo, de forma
alguma, produzir aquele coraçãozinho que se faz hoje em dia com as duas mãos
unidas em forma de concha - os polegares se tocando embaixo - para demonstrar
carinho por alguém. Tento, tento, mas o máximo que consigo produzir
embaralhando os punhos é o formato de meu fígado ou, quando muito, o baço. Tentei
fazer esse sinal manual noite dessas, quando minha esposa chegou do trabalho, e
ela largou-se no sofá, acometida por um acesso de riso.
Dia seguinte, passei parte da tarde treinando o gesto. Quando fui testar
exibindo-o ao gato, ele correu eriçado e passou horas escondido embaixo do
mesmo sofá. Não adianta, não consigo evoluir do simples e singelo “paz e amor”.
Aquilo, sim, é do balacobaco
(biiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiip)...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 4 de maio de 2012)
3 comentários:
Hahahahahaha excelente!
Quantas vezes precisaste editar o texto para evitar que o "biiiiiiiiiiiiiiiiip" tomasse conta tal qual numa música de rap norteamericano? Heheheh
Muito bom o texto! Não posso pensar o contrário, já que uso direto o "V" de outrora e o "OK pavão" pra mostrar que entendi todos babados.
Mas foi muita coragem a tua em tentar aquela porcaria do "coraçãozinho". Afinal, por que achas que o Pê-Lanza ("banda" restart) levou uma Pê-Drada há algumas semanas? Deve tê-lo feito em formato errado heheheh.
Heheh... "OK pavão" de fato é uma forma mais inteligente de designar o gesto.... Já os biiip, te digo... nao foi facil evita-los.....
Eu quase morri de rir por aqui! :)
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