quinta-feira, 25 de julho de 2013

E nem sou pinguim

Não sei para você, leitor, mas, para mim, o pior do inverno são os momentos em que é preciso ficar pelado (“não escreva ‘pelado’, escreva ‘nu’”, aconselhou-me a esposa). Respondi que jamais escrevo nu, sempre escrevo vestido, e que o ato de escrever não se encaixava naqueles que eu estava prestes a elencar como os momentos horrendos em que é preciso ficar pe... nu, nos longos dias de nossos invernos serranos.
Pois reitero e sustento que a momentânea necessidade de colocar-se nu em pelo é, sim, a maior tortura a que nos submetem essas temperaturas siberianas. É quando a pele entra em contato direto com o invisível e intangível poder do frio extremado ali, no banheiro, de manhã cedinho, ao despirmos o pijama e as pantufas para nos arremessarmos para dentro do box do chuveiro, peladinhos, peladinhos, os poros fechando e formando bolinhas pelos braços e pernas como se fôssemos frangos congelados prontos para irmos, a passarinho, direto ao forno. E assim como entramos debaixo do chuveiro, saímos, também pelados (minha esposa sai nua), tremelicando ao sabor das passadas rápidas da toalha que nos vai secando e preparando para o almejado contato com a camiseta e a roupa de baixo acolhedora, as primeiras camadas de vestes que nos irão ensanduichar e nos colocar aptos a irmos à luta diária pela sobrevivência por esses nossos Cárpatos gelados.
Depois de passarmos o dia caçando focas, armadilhando mamutes, perseguindo pinguins e rodando trenós, retornamos aos nossos iglus para, já no aconchego do (ge)lar, novamente termos de nos despir, ficarmos pelados (eu) ou nus (minha esposa) na hora de tirarmos as roupas do dia e recolocarmos os pijamas. Aqui na Serra, toda a nudez não sei se será castigada, mas, no inverno, tenho certeza de que toda a nudez será bem gelada, isso sim.
Em meus devaneios tiritantes, tenho muita inveja de Bruce Wayne e Dick Grayson que, na mansão milionária em Gotham City, pulam numa espécie de mastro de pole dance e chegam lá embaixo na Batcaverna instantaneamente vestidos de Batman e Robin. Ao menos, era assim que acontecia no seriado televisivo dos anos 1960. Que maravilhosa invenção que falta inventar essa, a da cápsula do vestimento automático. Ou isso ou, aqui na Serra, andar sete meses sem trocar de roupa... hummm... Tá bem, amor, tá bem, vou apagar isso...

 (Crônica publicada no jornal Pioneiro em 25 de julho de 2013)

Um comentário:

Blog da Cris disse...

Pois é amigo Kirst, o inverno é um mal/bem necessário para que o ciclo da vida permaneça em equilíbrio, o problema é que apenas os aptos sobrevivem, neste caso a probabilidade da minha(e de outros tantos que odeiam o frio)extinção é enorme. Brincadeiras a parte só um texto divertido e muita roupa para aguentar esse frio!!!