terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Bom trabalho, garotos!

Não tem como não se emocionar com a matéria de capa de ontem do jornal Pioneiro. O ato heroico da dupla de irmãos Daniel (cinco anos) e João Pedro Michelin (três anos), ao salvarem do afogamento na piscina o síndico do prédio em que moram, Armindo Gargioni, 65 anos, em Caxias do Sul, alcançou alta repercussão, e não é para menos.
Trajando os uniformes de alguns de seus super-heróis preferidos dos quadrinhos e da TV, Batman (Daniel) e The Flash (João Pedro), os heróis-mirins estavam à vontade entre os braços agradecidos do amigo que pescaram da morte ao perceberem que se afogava na piscina em que havia entrado para dar um mergulho. O reencontro do trio, ocorrido domingo no quarto do hospital em que o salvado se recupera, foi temperado de emoção e alegria e registrado para a história pelo Pioneiro. Os heróis de carne e osso, sorridentes e orgulhosos, faziam poses dos super-heróis da ficção trajando os uniformes dos personagens, para a câmera do fotógrafo.
 Mas eles não enganam ninguém: todos nós já conhecemos suas identidades nada secretas e admiramos seus feitos, sua índole, sua determinação, seu destemor, sua preocupação para com o próximo, sua empatia, sua consciência cidadã, sua certeza de saber o que é o certo a ser feito. No curso natural da vida, o mais comum é as crianças projetarem nas figuras de seus pais e dos demais adultos que os cercam (professores, parentes, ou mesmo ídolos da mídia) o perfil de heróis em cujos exemplos se espelham. Mas Daniel e João Pedro inverteram essa lógica.
Passamos todos a admirar a duplinha como exemplo de bons cidadãos. Ou melhor, de bons seres humanos. Ou, melhor ainda: de boas pessoas. Aquelas boas pessoas que todos nós já fomos um dia e que esquecemos de continuar sendo quando transformamos o trânsito em um inferno incivilizado, quando adotamos a postura do “eu-por-mim-e-o-resto-que-se-dane”, quando furamos fila, quando nos achamos os mais espertos, quando agimos daquelas maneiras horrorosas que nos fazem cair dentro do enorme grupo dos “folgados” que o colunista do Pioneiro Gilberto Blume tanto (e tão bem) identifica.

A atitude dos nossos pequenos Batman e The Flash nos enche de esperanças em relação a um futuro melhor a ser construído por quem nos sucederá no palco da vida. E esses protagonistas já estão em ação. Tomara que sejam maioria.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 4 de fevereiro de 2014)

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