sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Uma dieta incomum

Algumas pessoas acusam minhas crônicas de serem divertidas. Desconfiado por natureza canceriana que sou, nem sempre encaro isso como um elogio, afinal, levo muito a sério o ofício de cronicar neste espaço que ora ocupo na condição de interino de Ciro Fabres Neto. E não é por nada que fico com todos os meus pés atrás quando me falam ou me escrevem isso, haja vista aquela antiga questão do grupo de senhorinhas dos chás das sextas-feiras à tarde, que me enviam cartas raivosas após a leitura de meus textos, embriagadas de fel devido aos períodos que elas consideram longos demais antes da benfazeja pausa do ponto, repletos de vírgulas e intercalações, exaurindo-lhes o fôlego e convencendo-as de que eu escrevo dessa maneira com a intenção deliberada de massacrá-las, o que não é verdade, basta ver a curteza exemplar de minha próxima frase. Tenho dito.
Porém, para minha alegria, chega-me agora ao conhecimento o até então inimaginado poder curativo que parecem ter essas minhas tais crônicas divertidas, ao receber correspondência abaixo-assinada por um grupo de moças que me revelam um fenômeno impressionante. Conforme experiências que elas mesmas vêm desenvolvendo entre si, andaram detectando que, ao lerem essas minhas crônicas ditas divertidas e se torcerem de rir, sem economizar na altura e na extensão das gargalhadas, acabam queimando muitas calorias, o que tem colaborado de maneira decisiva para a perda daqueles centímetros a mais nas barriguinhas e nas perninhas que, definitivamente, não lhes pertencem. Elas leem e releem, e riem e riem e riem, e vão assim se desfazendo daqueles quilinhos indesejáveis obtidos por meio de suas relações passionais com sonhos deliciosos, croissants saborosos, sorvetes geladinhos e charmosas tacinhas de espumante com cereja no final da tarde.

Dizem-me na tal cartinha que chegaram até a criar entre elas o termo “A Dieta do Marcos Kirst”, que consiste em guardar minhas crônicas para serem lidas de supetão, uma atrás da outra, nos dias subsequentes a eventuais exageros gastronômicos, a fim de desintoxicar seus delicados organismos. Corro o risco de passar a ter meus textos receitados como dieta de apoio em consultórios médicos, em a coisa seguindo desse jeito. Eu que me cuide com o Conselho Regional de Medicina!
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 7 de fevereiro de 2014)

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