domingo, 25 de maio de 2014

A vez do olinguito

O mundo era mais fácil de apreender até alguns anos atrás, quando não se tinha tanto acesso à informação e quando nossas aldeias se restringiam (e se conformavam) ao fato de serem, agirem e pensarem como aldeias. Mas o mundo mudou vertiginosamente e mesmo as antigas aldeias estão plenamente inseridas nele, mostrando na prática que, hoje em dia, tamanho não é mesmo documento.
 Você pode perfeitamente viver em Uvanova e gerenciar um negócio com clientes estabelecidos na Manchúria. Não precisa morar em São Paulo para conhecer as últimas tendências do que quer que seja. Tudo isso gera facilidades, mas, ao mesmo tempo, semeia complexidades que exigem cada vez mais esforços de nossas mentes para que nos mantenhamos sintonizados com o ritmo da vida moderna. O conhecimento não é mais estático, ele se transforma constantemente, deixando a comer poeira, por exemplo, aqueles que ainda acreditam que Plutão é um planeta, conforme minha geração aprendeu nos bancos escolares.
 Plutão foi rebaixado, gente, apesar de meus protestos particulares, que não deram em nada, como bem se vê. Plutão segue lá, firme e forte, no mesmo lugar de sempre, na nona e última posição do Sistema Solar, logo depois de Netuno, cumprindo sua orbitazinha ao redor do Sol como Vênus, Marte e todos os outros, só que a humanarada daqui da Terra decidiu, por “a” mais “b”, desqualificá-lo. Ele, que não tem internet nem perfil no facebook e faz tempo que não telefona, não está sabendo de nada, mas aqui na aldeia referir-se a Plutão como planeta é passar atestado de desinformado.

Ou seja, é preciso estar ligado, tá ligado? Ontem, por exemplo, dando lá minhas navegadinhas, fiquei sabendo que existe um Instituto Internacional para a Exploração das Espécies e que, todos os anos, a entidade divulga uma lista contendo as principais espécies animais e vegetais descobertas na Terra nos últimos meses. Ou seja, ainda estamos a descobrir bichos e plantas na natureza, que sequer sonhávamos existirem. Eis, então, que surge o olinguito, um mamífero simpático (“e fofo”, insiste minha esposa que eu ressalte) que vive encarapitado na copa das árvores dos Andes. Conhece o olinguito? Não? Ah, você é do tempo em que bicho era vaca, cabra e galinha, e animal estranho era o tigre do circo, não é mesmo? Pois é, meu caro, mas isso não basta mais. Entra na internet e vai lá conhecer o olinguito. Para não correr o risco de acharem que você vem de Plutão...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 24 de maio de 2014)

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