sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Sobre uma gatinha

Lamento, mas a justificativa aplicada não cola. Preciso de mais, muito mais argumentos para que a empresa japonesa detentora dos direitos autorais sobre Hello Kitty me convença de que a simpática e doce personagem dos desenhos animados e dos quadrinhos não é uma gatinha, e sim, uma menininha, como quiseram nos engrupir essa semana. Não, essa não!
A exemplo de milhões de pessoas ao redor do planeta, fiquei chocado com a revelação de que Hello Kitty, criada em 1974, com seus bigodinhos de gatinha, suas orelhinhas de gatinha, suas patinhas de gatinha, sua manha de gatinha, não seria uma gatinha, e sim uma menininha humana. Nanana, para cima de mim, não, jacaré, qual é? Não se brinca assim com o imaginário infantil das pessoas, mesmo que essas pessoas já estejam mergulhadas no mundo adulto há décadas. Afinal, nossos heróis da infância prosseguem vivos e ativos dentro de nossas psiquês, e entre eles lá está ela, Hello Kitty, a ga-ti-nha.
Sanrio, a tal da empresa japonesa, embasa sua tese de que a personagem não é gata e sim ser humano com um argumento frágil e falho. Segundo eles, “nunca ninguém a viu de quatro”, portanto, ela é uma bípede e, por consequência, humana. Ora, pois, pois, caros senhores engravatados executivos da Sanrio, que papo é esse? Pra cima de nós? E que me dizem então do Mickey Mouse, o camundongo? Mickey é um rato e também nunca foi visto de quatro. O mesmo se dá com o Pateta, que é um cachorro e sempre andou sobre duas patas. E o gato Tom? E o rato Jerry? E o Leão-da-Montanha? E Zé Colmeia? Catatau? Zé Buscapé?
Aimeudesdoceu, agora os exemplos não param de avalanchar minha memória, só para afogar os senhores Sanrio de argumentos: e a Tartaruga Touché? E as Tartarugas Ninja? E a Clarabela, que é uma vaca? E a onça Galileu, o jabuti Moacir, a lebre Geraldinho, o tatu Pedro Vieira, da Turma do Pererê, criada por Ziraldo?

Não, só um pouquinho, péra lá, não se mexe assim impunemente com nossos fundamentos ficcionais. Longa vida à Hello Kitty, a gatinha! Gatinha!
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 29 de agosto de 2014)

Nenhum comentário: