domingo, 28 de agosto de 2011

Eu sou um viciado

Há um vício frente ao qual não consigo reunir forças suficientes para opor resistência eficaz. Pior de tudo é que ajo em relação ao problema igual ao alcoólatra que não admite estar dominado pela bebida, e insiste em sustentar a falácia de que é capaz de largá-la quando bem entender, bastando querer. Só que jamais chega o momento de querer largá-lo, e é aí que a garra do vício vai apertando seu indesatável nó.
O mesmo se dá comigo, não em relação ao álcool ou ao consumo de qualquer espécie de droga lícita ou ilícita, mas sim no quesito aquisição-compulsiva-de-livros-que-me-interessam-sobremaneira-e-que-precisam-ir-morar-lá-em-casa-agora. Não posso entrar em uma livraria que eles saltam das prateleiras e pulam no meu colo, disputando atenção e desejando seguirem comigo para uma eterna vida conjunta.
Mas minha compulsão não se restringe, logo aviso, à simples aquisição dos livros, como que atendendo a uma inclinação à mera posse e acúmulo de objetos a fim de saciar alguma tara psíquica flutuante nos recônditos de minha psiquê. Também leio compulsivamente os livros que adquiro, e procuro manter equilibrada a equação entre o volume de obras a ler e a admissão de novos títulos para dentro de casa. O problema é que a casa não aumenta espacialmente na mesma medida em que os livros vão chegando, e aí sim é que reside o perigo maior de minha compulsão. Antes de um de nós ter de sair (eu ou os livros), temo que minha esposa e o gato se unam para me internar na LLL, a Liga dos Livristas Lascivos, para desintoxicação.
Felizmente sei da existência de seres semelhantes a mim perambulando soltos por aí, o que me dá um alento. Dia desses o Germano, lá da livraria Do Arco da Velha, relatou-me o episódio de um cliente dele que telefonou-lhe da praia, no verão, avisando que ele, o cliente, passara a perna no Germano. “Por quê”? Quis saber o livreiro. “Porque eu comprei aí de ti três livros maravilhosos e em troca deixei apenas um punhado de dinheiro”. Bingo! Frase típica de presidente da LLL, que reconhece a impossibilidade de mensurar o valor de um bom livro. Depois da história, claro que alimentei meu vício comprando um livrinho...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 26 de agosto de 2011)

3 comentários:

Ana Seerig disse...

Pois somos dois! Por essas e outras que tento ao máximo passar longe de uma livraria e, se por distração, chego perto de uma vitrine, dou aquela assobiadinha e finjo que não estou vendo...

Mais um belo texto, Kirst!

Pandora disse...

Pois somos três.... Se eu entrar na livraria, não tem errada, sempre tem um livro enxerido que pula no meu colo e foi... estamos junto para sempre. Algum dia alguém me interna rsrs.

Acho que o paraiso deve ser algo como uma grande biblioteca com um supremento infinito de jujubas! rsr

Anônimo disse...

...por essas e outras que, ali na Velha, eu peço café no balcão. Ao menos consigo dar as costas aos livros por algum tempo. Mas que sinto aquela estática puxando pelos cabelos, eu SINTO! heheheheh

J.Cataclism