sábado, 8 de fevereiro de 2014

Sorvete na cuia?

Não vou revelar onde o fato aconteceu, nem quando e tampouco com quem (e se não parar por aqui com as restrições, corro o risco é de ficar sem contar porcaria nenhuma e acabar me vendo sem crônica, o que seria uma baita bagualada), mas me restringirei à sua essência. Pos me botaram a experimentar sorvete de erva-mate, o que serviu, se não para me refrescar a goela nesses dias mais quentes que chapa de fogão a lenha, ao menos, para fazer brotar alguns pensamentos, que nem urtiga em tapera abandonada.
E não é nada fora da cachola matutar sobre assunto ligado à erva-mate nessa medonha época da história rio-grandense, em que o mais importante produto da cesta-básica gaudéria (sem esquecer, naturalmente, da picanha gorda e da rapadura) anda alcançando valores nunca antes praticados, restringindo o chiar das chaleiras e ressecando porongos do Chuí a Ijuí, do Alegrete a Curumim. A erva-mate está na ordem do dia, o preço do quilo está mais alto que pescoço de garnisé assanhado e, daqui a pouco, para economizar, teremos de começar a passar a cuia que nem copo de caipirinha, cada um dá um gole e quem roncar a bomba paga o próximo pacote. Barbaridade!
Mas assim, índio velho, o que eu queria prosear mesmo é que então me manetearam a experimentar o tal do sorvete de erva-mate, e tchê, vou te contar, não é por nada, mas te falo em coisa que me desceu virada, sabe? Pos não gostei, e isso que me amanso num sorvete que nem terneiro guaxo numa mamadeira de leite. Não gostei do sabor daquele troço, apesar da cor verdinha-clara parecida com erva que nem te conto, e do sorriso faceiro das donas do bolicho, orgulhosas da sua invencionice, como tinha de ser. Mas não, não, sorvete de erva-mate, para mim, não, obrigado, tchê, e para tirar o gosto daquilo da boca já me botei a pescocear em busca de uma chaleira pra cevar logo um mate ou mesmo de um gole de pura pra espantar o sabor.

O fato é que a gente vai serenando as melenas e ficando a cada dia que passa mais aquartelado nos costumes de antigamente, mais teimoso que pai de chinoca nova. Sorvete de erva-mate? Não, tchê, obrigado, essa eu passo, não quero e revido. Me dê é um chimarrão de erva boa mesmo, enquanto o salgado do preço não fizer cócega no fundo da minha guaiaca.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 8 de fevereiro de 2014)

2 comentários:

Rafaela disse...

A linguagem foi inspirada no rodeio de Vacaria? :)

marcos fernando kirst disse...

Provavelmente sim... oigalê!