sábado, 23 de maio de 2015

Um país de adolescentes

Tem um amigo meu, chamado Argentino, que gosta de comparar os diversos países do planeta a perfis específicos dos seres humanos. Não há nada de científico nisso, ele apenas o faz nas mesas de bar quando está discorrendo sobre algum assunto relativo a política internacional ou às questões que assolam o nosso próprio país, e o faz a título de “figura ilustrativa de discurso”, como ele próprio classifica seu processo classificatório.
Assim é que Argentino compara a Inglaterra, por exemplo, à figura estereotipada de um senhor de meia-idade, sisudo, um típico lorde inglês. A França, para ele, equivale-se ao perfil de uma elegante dama da alta sociedade, perfumada, charmosa e repleta de mistérios. Portugal é um poeta lírico solitário e angustiado e a mim me parece que ele faz a evocação influenciado pela figura de certo poeta famoso, mas vá lá, que seja. E quanto mais a noite se alonga, mais Argentino tece correlações ilógicas entre países e perfis imaginários, dando asas a seus devaneios pseudopsicogeopolíticos.
De minha parte, apenas escuto-o embarcar nessas suas digressões, sem contrapor, pois que conheço meu amigo e sei que o melhor a fazer, nessas ocasiões, é tão-somente ouvir e calar, concordar com tudo, aquiescer e deixar por isso mesmo. Especialmente porque sei onde ele invariavelmente deseja chegar: no perfil do Brasil, naturalmente. O Brasil, para meu amigo, tem o perfil assemelhado ao de um adolescente inconsequente e cegado pela sua própria prepotência juvenil. Embasa sua tese a partir de vários argumentos, elencando quase sempre a questão da preferência dos brasileiros por três tipos de notícias: sobre futebol, sobre factoides envolvendo subcelebridades e sobre violência. “Preocupações típicas de adolescentes”, afirma, peremptório.

Não sei se é devido à repetição desses discutíveis argumentos a que sou frequentemente submetido, mas não deixo de dedicar alguma ponta de credibilidade à tese dele, especialmente no que se refere à questão brasileira. Será que o que nos estaria faltando, coletivamente, seria uma dose cavalar de amadurecimento? Será que o Brasil precisa é sair da adolescência? Vai que...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 23 de maio de 2015)

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