Não, eu não sou masoquista e
não, eu não sou apreciador de ficar levando paulada (nem literal e nem
metaforicamente). Mas sou teimoso. E é movido pela mais pura e genuína teimosia
que insisto em voltar a abordar aqui nestas mal digitadas linhas a questão (até
então inimaginavelmente polêmica) da temperatura ideal para se degustar um bom
sagu. Como estou entrando em férias e só volto daqui a duas semanas, trago de
novo à tona a batata quente e desapareço pela porta dos fundos, porque já vi
que, em terras serranas, forasteiro se meter a desautorizar a temperatura ideal
do sagu é mexer em vespeiro sem botar máscara, é entrar no canil com gato no
bolso, é puxar a trança da menina sem planejar a rota de fuga.
Podem me xingar, que só vou
ficar sabendo na volta, quando o sagu já tiver esfriado e se apresentar bem
geladinho, pronto para ser degustado como se deve: frio, gelado, e tenho dito!
Sustentei ao longo de duas crônicas passadas meu espanto ao descobrir que, aqui
pela Serra, essa terra que me adotou e que admiro com verdadeira paixão, os
nativos preferem saborear essa delícia típica, o sagu, em temperaturas que
transitam do morno ao quente, chegando, em alguns casos, ao extremo do
quentérrimo fumegante. Coisa que muito me causa impressão, pois que, conhecedor
que sou de sagu desde a mais tenra infância, prefiro consumi-lo frio, gelado,
quase ao ponto de picolé. Abriu-se, então, uma polêmica que o mundano cronista
jamais sonhara estar latente, quente como uma tigela de sagu. Fiquei
praticamente sozinho em meu gosto, aqui tão alienígena, perdendo de lavada para
os adoradores do sagu quente e sendo visto como um ser mais estapafúrdio do que
realmente sou.
Teimoso, não me resignei tão
fácil ao senso imperante e fui investigar, pois que aqui nesta alma reside
também um repórter investigativo. Telefonei para 20 restaurantes da cidade: dez
que servem comida a quilo, cinco galeterias e cinco churrascarias. Em todos
eles, a sobremesa está incluída. Todos servem sagu no bufê de sobremesas,
porque é uma das preferidas dos clientes. E servem o sagu de que forma? Frio!
Frio!! Frio!!! Sempre frio! Nenhum estabelecimento gastronômico na cidade serve
sagu quente nos seus bufês de sobremesa. Não há réchaud mantendo o sagu aquecido,
como se faz com as comidas. O que obriga, então, todos os apreciadores de sagu
quente a comerem-no devidamente frio nos restaurantes, ou a torcerem-lhe os
narizes e passarem reto rumo ao pudim de gelatina. Quero ver agora o que me
dizem. Mas só na volta. Ah, se já esfriou, me passa o sagu. E me fui!
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 1 de julho de 2016)
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