Faça de conta que você é candidata (ou candidato) a Miss
Alguma Coisa. Vamos lá, você consegue, trata-se apenas de um exercício de
imaginação. Não importa se você é leitor ou leitora, tampouco se acredita já ter
passado da idade de se candidatar a Miss Qualquer Coisa Que Não Seja Colecionador
de Velinhas de Aniversário (eu disse “velinhas”, sem “h” no meio, madama, leia
de novo). O que importa é o exercício em si. Venha comigo, farei companhia
nesse jogo mental.
Somos, então, candidatos a Miss Qualquer Coisa, combinado?
Ok. Não, o senhor não precisa trancar a respiração e encolher a barriga, vamos
pular a parte dos desfiles de maiô, fique tranquilo. Ah, a madama já estava
toda faceira, né? Mas não, madama, lamento, passaremos direto à fase das
perguntas e respostas, porque, como sabemos, hoje em dia, nesses concursos, a
parte intelectual das candidatas conta muito, e é aí que quero chegar nesta
mundana de hoje. Preparados? Vamos lá.
Teremos de responder a duas perguntas. Lá vai a primeira:
qual o som de que você mais gosta? Precisa responder assim, na lata, porque uma
Miss Alguma Coisa necessita provar capacidade de raciocínio rápido e convicção
de ideias. Então? Qual o som de que você mais gosta? Ah, eu sabia: o barulhinho
da chuva! Ótimo, estamos indo bem (respondi a mesma coisa), a faixa começa a se
aproximar de nossos peitos. Agora, vamos ao desempate. A segunda pergunta. Qual
o barulho que você mais detesta? Difícil essa, né, madama? Ei, amigo candidato,
não esqueci de você, apesar de tê-lo livrado do maiô. Responda lá! Qual?
Rápido, seja um Miss Talentoso! Qual a resposta? Gritos! Sim, o som que você
mais odeia é o de gritos! Respondi a mesma coisa, novamente!
Pois é isso, madama miss leitora, cavalheiro miss
leitor... As respostas certas a essas duas perguntas são “chuva” e “gritos”. Ao
menos, é o que pude concluir ao assistir, noite dessas, pela televisão, à
transmissão de um disputado certame dessa natureza, em que as candidatas me
surpreenderam com o teor de suas respostas. Das dez finalistas, dez responderam
dessa maneira às duas perguntas. Eram as respostas certas, pelo visto, e, a
julgar pela unanimidade, uma deve ter colado da outra, só pode. Tive pena foi
dos jurados. O desempate precisou ser decidido por meio da avaliação das
polegadas a mais ou a menos acomodadas dentro (e fora) dos maiôs.
Quem ganhou, eu não sei, porque, após a prova intelectual,
desliguei a tevê e fui me preparar para concorrer. Afinal, possuo os pré-requisitos
básicos: adoro chuva e odeio gritos. Como todas as misses.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 28 de julho de 2016)
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