A história é pungente e me
chegou ao conhecimento narrada por um amigo, a quem chamo Fiódor. Por que
classifico a narrativa como “pungente”? Ora, porque, conforme ensinam os
dicionários, ela causa “uma impressão muito viva e dolorosa”. Trata-se de uma
história de amor. De amor não correspondido. Uma história de amor não
correspondido, ainda mais quando bem narrada, tem o poder de plantar em nosso
íntimo uma impressão viva e dolorosa. Portanto, pungente. Mas o que mais marca o
conto é a frase com que meu amigo encerra a narrativa, intitulada “Noites
Brancas”. Chegaremos a ela.
A ação se passa em meados do
século 19, na cidade russa de São Petesburgo. O protagonista, cujo nome Fiódor
não nos revela, é um jovem sonhador de poucos recursos que luta pela
sobrevivência enquanto idealiza um amor que nunca lhe aparece. Certo dia, depara
na rua com uma bela moça a caminhar desatinada, visivelmente abalada por algum
motivo, desnorteada, a chorar. Ele se aproxima, aborda-a, oferece um amparo que
prontamente é aceito pela fragilizada desconhecida. É o que basta para o início
de uma conversação que logo se transforma em forte amizade, com ambos trocando
confidências e compartilhando suas histórias de vida.
A bela e chorosa moça se chama
Nastenka. Ela está sofrendo de amor porque há um ano espera pelo retorno de seu
noivo, que fora a Moscou fazer fortuna e lhe prometera retornar naqueles dias, procurá-la
e casar com ela. Ela esperou pacientemente pelo prometido. Porém, agora, sabe
que ele está na cidade há três dias, mas não a procura. Terá casado com outra?
Esqueceu-a? Abandonou-a? Não a ama mais? Oh, como sofre Nastenka! O rapaz
promete ajudá-la. Levará carta dela ao amante desleixado e aguardará resposta.
Em meio a essas tratativas, o inevitável acontece: ele mesmo se apaixona por Nastenka,
cujo coração é de outro. Ao final, como o noivo poltrão não aparece, ela chora
nos braços de nosso enamorado protagonista, que lhe revela seu amor por ela.
Nastenka, então, entrega o
coração a seu jovem protetor, já que nada mais lhe resta. Ele vibra. Casará com
ela! Será feliz! Já o é, neste preciso instante! No entanto, em meio à comoção,
o tal noivo, enfim, surge, e Nastenka, com um grito de emoção, se desprende dos
braços do protagonista e desaparece nas brumas com o antigo amado. Decepção!
Horror! Tristeza! Mas o moço consegue encontrar consolo em suas próprias
palavras, com as quais meu amigo Fiódor Dostoievsky encerra o conto: “Meu Deus!
Um instante de completa felicidade, não basta já para uma vida inteira?”. Boa
pergunta...
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