Nem tanto ao Céu, nem tanto à Terra, já dizia não sei quem não sei onde, e eis que sigo impune empilhando aforismos populares anônimos, para o horror daquele grupo de velhinhas que tomam chá da tarde às sextas-feiras e insistem em continuar me lendo, na esperança de que algum dia eu escreva algo menos indigesto, de preferência em frases mais curtas que não lhes exijam pausas a cada vírgula para recuperar o fôlego e emendar o raciocínio. Mas o que me toma a atenção dessa vez é a questão levantada pelo deputado estadual Raul Carrion e sua nova lei, que pretende regular o uso de expressões estrangeiras no Estado, supostamente em defesa da moral e dos bons costumes da língua pátria.
O tema é polêmico e instigou o embate entre as vozes contrárias e as favoráveis à regulamentação do uso de estrangeirismos no cotidiano. Mas ninguém se colocou contrário à defesa do patrimônio cultural que é a língua portuguesa. Criticou-se, sim, a forma de preservá-la, por meio da força de uma lei em essência difícil de ser aplicada e fiscalizada. Aí é que se encaixa o aforismo que abriu este texto, sugerindo que coisas assim se solucionam ao natural. Línguas são entidades vivas que se retroalimentam pelo uso cotidiano de seus termos, permitindo o surgimento de neologismos e a absorção natural de expressões importadas. É assim desde sempre, e seguirá assim sendo enquanto as velhinhas do chá levantarem a mão para chamar o garçom (“garçon”, que é “rapaz” em francês, todas elas sabem).
Claro que prefiro “deletar” frases ruins que escrevo ao computador, ao invés de “eliminá-las”, afinal, o programa que utilizo para escrever chama-se “word”, e não “palavra”. Mas há exagero, sim, quando a loja pinta uma frase em inglês em sua vitrine dizendo que “se as mães fossem flores, eu as colheria”. Quem vai entender? Isso atrai clientes? Isso torna a loja mais chique? Ou não passa de esnobismo terceiro-mundista? Será que as funcionárias terão capacidade de me atender em inglês, uma vez que a vitrine me convida a adentrar ali exercitando um idioma estrangeiro?
O caminho do meio é sempre o mais sábio, já dizia outro alguém, em outro lugar. As velhinhas do chá devem saber quem era...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 29 de abril de 2011)
Um comentário:
Pois é! Como é que o cidadão fará na hora de "postar" uma mensagem num "blog"?!
:-O
J.Cataclism
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