terça-feira, 18 de março de 2014

As velinhas do bolo

Aniversário é aniversário e existem demandas e rituais que devem ser cumpridos independentemente de quem quer que seja o aniversariante. A lista de demandas vai se avolumando à medida em que algumas decisões vão sendo tomadas, em uma verdadeira corrente de tarefas que resultarão, se tudo der certo, em uma celebração à altura do homenageado.
Partindo-se do pressuposto de que haverá comemoração, é fundamental que haja bolo. E não um bolo qualquer, mas sim um bolo de aniversário. Hoje em dia, o usual é dirigir-se até a confeitaria mais afamada e adquirir um bolo já prontinho, que espia você ali do balcão, pronto para ser levado até a residência do aniversariante e disputar com ele as atenções da festa. Nos tempos de antanho, as famílias sempre eram bem servidas de moças e senhoras doceiras de mãos cheias (mães, avós, tias, cunhadas, irmãs), que se encarregavam de construir bolos em suas próprias cozinhas, personalizadíssimos e inesquecíveis. As coisas mudaram bastante, mas um bolo de aniversário segue sendo um bolo de aniversário, e a presença dele é sempre fundamental.
E se vai haver bolo, então é preciso providenciar também as velinhas. E não velinhas quaisquer, mas velinhas de bolo de aniversário, dessas em formato de números, que apagam e acendem (para desespero do fôlego do aniversariante), porque senão não tem graça nenhuma. Sendo assim, alguém precisa encarregar-se do bolo, outro dos convites, outro dos demais comes, outro dos bebes, outro do local, e as tarefas vão sendo repartidas. À minha irmã coube, ano passado, a incumbência de comprar as velinhas. Dirigiu-se à loja de artigos para festa, entrou, começou a vasculhar a seção de velinhas. Queria duas, uma de cada número, e com as cores combinando. Aproximou-se a vendedora com ar solícito e perguntou à minha irmã quais os números de que ela precisava.
“Um zero e um nove”, respondeu minha irmã.
“Ah”, emendou a solícita atendente: “e é menino ou menina?”, quis saber, para definir as cores das velinhas.
“É para meu avô. Um menino que vai completar 90 anos amanhã”, explicou ela.

Afinal de contas, tudo é uma questão de ponto de vista. A começar pelo ângulo de duas velinhas sobre um bolo de aniversário.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 11 de março de 2014)

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