terça-feira, 18 de março de 2014

Garçom, mais uma

O nível de comunicação entre dois homens para solicitar a reposição de uma garrafa de cerveja numa mesa de bar ou de restaurante é algo que beira à perfeição. Em sendo do sexo masculino os dois homens-personagens em questão (cliente e garçom), não será necessário mais do que uma olhadela do garçom de lá do canto e um rápido gesto do cliente do lado de cá para que outra garrafa geladérrima se materialize dentro do recipiente térmico para garrafas que está na mesa.
Trata-se de um exemplo perfeito de economia máxima de energia na obtenção do máximo de resultado. Um olhar, um gesto, nova cerveja. Equação perfeita, elegante, irretocável, para fazer matemáticos de ponta babarem de inveja e desejarem uma gelada para afogar suas mágoas. O grau de especialização desse tipo de comunicação já atinge patamares quase universais, sendo que hoje em dia é possível um homem monoglota solicitar a reposição da cerveja na Holanda, na Transilvânia, em Honolulu, na maior tranquilidade.
O mais difícil de todo esse processo é conseguir a atenção do garçom, procedimento repleto de dificuldades em qualquer lugar do planeta. Vencida essa etapa, quando o garçom cruza o olhar dele com o seu, é preciso agir rápido. A garrafa vazia da cerveja já deve estar posicionada em um canto da mesa, com o rótulo virado para fora, a fim de facilitar a visualização por parte do garçom, que dará sequência à bebeção com a mesma marca já pedida, lógico, todos sabem dessa premissa cervejeira básica (nós, os homens, ao menos, sabemos).
Contato visual estabelecido, o gesto a ser feito permite variações, todas elas perfeitamente compreensíveis pelo garçom. O mais comum é levantar o braço e fazer o gesto de “um” com um dedo, dando uma olhadela rápida para a garrafa vazia sobre a mesa. O garçom verá e acenará positivamente com a cabeça, mostrando que entendeu. Logo virá nova cerveja. Também é possível usar as duas mãos, fazendo um gesto sincronizado que representa o tamanho de uma garrafa no sentido vertical. Também virá nova cerveja. Pode-se ainda apontar com o indicador para a desolada garrafa vazia e logo transformar o punho em sinal de “positivo perguntante”. Funcionará. Nova cerveja virá.
Soube que especialistas foram contratados pela ONU a fim de desvendarem em que níveis cerebrais se dá essa harmonia universal entre homens na hora de pedir uma cerveja. Pode residir aí a chave para a conquista da compreensão universal.


(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 13 de março de 2014)

Nenhum comentário: