segunda-feira, 3 de março de 2014

Flertes com Momo

O segundo melhor Carnaval de minha vida aconteceu em meados da década de 1980 do século passado, quando eu ainda era estudante de Jornalismo em Santa Maria e decidi passar o feriado momesco na cidade, sem viajar para a casa materna em Ijuí, devido a compromissos relativos ao Diretório Acadêmico da Comunicação Social, cuja diretoria eu integrava. Depois de redigidos os textos combativos com os companheiros, de datilografados os conclames anti-ditadura na minha máquina de escrever portátil, de impressos os panfletos no mimeógrafo e de encerradas as discussões na reunião cuja principal decisão fora marcar a data de uma nova reunião, eu finalmente estava livre para curtir o feriado... porém... sozinho na Boca do Monte!
Para minha alegria, um amigo ijuiense que fazia residência médica e era rico para nossos padrões estudantis (morava sozinho em um apartamento alugado, possuía um Fusca 1300 azul, pagava rodadas de cerveja para a gurizada e tinha aparelho de videocassete), viajou e me emprestou a chave de seu apartamento durante o feriado, para que eu tomasse conta. Comprei umas latinhas de cerveja, aluguei oito fitas VHS na locadora e passei o Carnaval varando madrugadas e assistindo aos filmes que tanto queria ver e rever. Uma delícia.
Já o primeiro melhor Carnaval de minha vida deu-se alguns anos antes, na adolescência, quando ainda morava em Ijuí. Na quarta-feira de cinzas, coloquei uma máscara de monstro feita de látex, botei meus óculos de armação preta por cima da máscara, enfiei um casaco preto de couro com o zíper fechado até o queixo, calcei luvas e convenci minha mãe a sair dirigindo o Passat branco pela cidade, comigo no lado do carona, vidro aberto, meio corpo para fora, abanando para todos os transeuntes, gritando “grau” e causando sustos. Fi-lo porque qui-lo e porque mascarei-me, como diria Jânio Quadros.

Hoje, passadas a adolescência e a juventude universitária, varo as madrugadas de Carnaval afundado no sofá da sala, zapeando pelas transmissões ao vivo dos desfiles das escolas de samba no Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre e Caxias do Sul. Minha favorita no Rio é a Salgueiro. Em São Paulo, a Vai-Vai. Em Porto Alegre, a Embaixadores do Ritmo e, aqui em Caxias, ainda estou em fase de namoro. Mas o que tem de caxiense com samba no pé, é algo de impressionar passistas tarimbados forjados ao sol de Copacabana. E não é que polenta também tem ginga?
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 3 de março de 2014)

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