quinta-feira, 2 de julho de 2015

Saudades do Argemiro

Eram quase onze horas da noite na terça-feira quando desliguei a televisão em casa, terminada a partida entre Argentina e Paraguai pelas semifinais da Copa América. O placar de 6 a 1 a favor da Argentina me fez lembrar do vexame sofrido (ou protagonizado?) pela Seleção Brasileira frente à Alemanha na Copa do Mundo do ano passado, quando a bola balançou nossas redes uma vez a mais do que a dos paraguaios. Ai que dor. E foi aí que me lembrei do jogador Argemiro.
 Você aí, leitor, certamente não se lembra de Argemiro. Aliás, certamente nunca ouviu sequer falar de Argemiro. Pudera: Argemiro não fez fama em nenhum clube, apesar de ter jogado na Portuguesa e no Vasco da Gama. Argemiro não foi jogar em time estrangeiro em negociações milionárias que ganharam a mídia internacional. Argemiro não desfilava pelas baladas noturnas e nem de carrão pelas avenidas das principais cidades brasileiras. Argemiro não aparecia nas revistas de fofocas e nem dava entrevistas na televisão, até porque não existia televisão no Brasil na época em que Argemiro entrava em campo. Como, então, recordar de Argemiro?
Pois Argemiro, apesar da modéstia da biografia futebolística, tem lá seu lugar na história da Seleção Brasileira, já que integrou o time que disputou a Copa do Mundo de 1938, realizada na França e vencida pela Itália. Argentino atuava como meia, e ajudou o Brasil a conquistar o terceiro lugar na competição, ao lado de jogadores como Leônidas e Domingos da Guia. Foi a única participação de Argemiro na Seleção. Como não trouxe o caneco e não foi mais convocado, acabou esquecido.
Mas Argemiro existiu. Chamava-se Argemiro Pinheiro da Silva, nascido em Ribeirão Preto (SP) em 2 de junho de 1915 (teria feito 100 anos no mês passado, caso não tivesse morrido em 1975). Atuou no Esporte Clube Rio Preto entre 1931 e 1935, na Portuguesa Santista de 1935 a 1938 e no Vasco da Gama de 1938 a 1946, quando pendurou as chuteiras. Em nenhum desses clubes há estátuas erguidas a Argemiro.

Por que então essa súbita saudade de Argemiro, a quem nunca vi jogar e de quem nunca ouvi falar? Ah, sei lá... Talvez porque, no fundo, esteja mesmo é com saudades de verdadeiros jogadores brasileiros de futebol...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 2 de julho de 2015)

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