A cor era telha! Minha esposa chegou em casa, vinda do salão de beleza, e
anunciou, estendendo o par de mãos para a frente, os dez dedinhos em ordem
unida: “ó, cor telha”. Telha! Então tá, a cor da semana era, então, telha.
Semana passada foi “sedução”, a cor. E, na anterior, pelo que me lembre, as
unhas haviam chegado em casa embaladas pela insinuante cor “deixa beijar”. Mas
já houve “Gabriela”, “mistérios do destino”, “picolé”, “flor do deserto”,
“verde ninja”, “mostarda atômica”, “pura luxúria”, “Helena de Tróia”, “musa”,
“toque de ira” e muitas outras.
É fascinante esse universo criativo e inesgotável em que se transformou o
batizado de cores de esmalte para as unhas femininas. É divertido para elas
isso de colorir as unhas cada vez não só com uma cor diferente, mas também alternando
nomes que evocam estados de espírito, desejos, intenções, promessas. Trata-se
de uma nova forma de comunicação subliminar distribuindo mensagens e definindo
posturas de uma maneira delicada, sutil, elegante, charmosa. Preste mais
atenção quando uma mulher lhe aponta o dedo.
Que estimulante esse mundo feminino pautado pelo uso desenfreado das
cores. Cores nas unhas, cores nos lábios, cores nas pálpebras, nos cabelos, nas
sobrancelhas, nos cílios, nas orelhas por meio dos brincos, no pescoço com os
colares, nas mãos, pulsos e braços utilizando-se de anéis, pulseiras e
acessórios variados, no corpo inteiro com o inesgotável leque de possibilidades
oferecido pelas combinações do vestuário. Até em dias de chuva as mulheres têm
a opção de escapar da sisudez de um tempo enferruscado abrindo suas sombrinhas
amarelas, roxas, alaranjadas, tigradas... Nós, opacos homens, enfrentamos os
pingos com nossos casmurros guarda-chuvas pretos, pretos desbotados, pretos
escuros, pretos e pretos.
Não estou aqui confessando nenhuma intenção reprimida de passar a pintar
minhas unhas. Sou cronista igual ao Fabrício Carpinejar, sou homem igual ao
Fabrício Carpinejar, tenho unhas igual ao Fabrício Carpinejar, mas não as
pintarei igual ao Fabrício Carpinejar. E não é por nada não, mas é que já se
trata de marca registrada dele... Eu que vá inventar a minha. Quanto custa uma
sombrinha amarela?
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 1 de junho de 2012)
3 comentários:
Haha muito legal! Baita texto.
Começa comprando uma cueca vermelha heheheheh
Cueca vermelha eu já tenho!! Porém, amarela.....
...amarela é só pro Ano Novo, conforme uma amiga que também as vende.
Bem, vá lá, opções não faltam. Gostei mesmo é dos nomes das cores!
J.Cataclism
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