sexta-feira, 1 de junho de 2012

A cor que dá na telha



A cor era telha! Minha esposa chegou em casa, vinda do salão de beleza, e anunciou, estendendo o par de mãos para a frente, os dez dedinhos em ordem unida: “ó, cor telha”. Telha! Então tá, a cor da semana era, então, telha. Semana passada foi “sedução”, a cor. E, na anterior, pelo que me lembre, as unhas haviam chegado em casa embaladas pela insinuante cor “deixa beijar”. Mas já houve “Gabriela”, “mistérios do destino”, “picolé”, “flor do deserto”, “verde ninja”, “mostarda atômica”, “pura luxúria”, “Helena de Tróia”, “musa”, “toque de ira” e muitas outras.
É fascinante esse universo criativo e inesgotável em que se transformou o batizado de cores de esmalte para as unhas femininas. É divertido para elas isso de colorir as unhas cada vez não só com uma cor diferente, mas também alternando nomes que evocam estados de espírito, desejos, intenções, promessas. Trata-se de uma nova forma de comunicação subliminar distribuindo mensagens e definindo posturas de uma maneira delicada, sutil, elegante, charmosa. Preste mais atenção quando uma mulher lhe aponta o dedo.
Que estimulante esse mundo feminino pautado pelo uso desenfreado das cores. Cores nas unhas, cores nos lábios, cores nas pálpebras, nos cabelos, nas sobrancelhas, nos cílios, nas orelhas por meio dos brincos, no pescoço com os colares, nas mãos, pulsos e braços utilizando-se de anéis, pulseiras e acessórios variados, no corpo inteiro com o inesgotável leque de possibilidades oferecido pelas combinações do vestuário. Até em dias de chuva as mulheres têm a opção de escapar da sisudez de um tempo enferruscado abrindo suas sombrinhas amarelas, roxas, alaranjadas, tigradas... Nós, opacos homens, enfrentamos os pingos com nossos casmurros guarda-chuvas pretos, pretos desbotados, pretos escuros, pretos e pretos.
Não estou aqui confessando nenhuma intenção reprimida de passar a pintar minhas unhas. Sou cronista igual ao Fabrício Carpinejar, sou homem igual ao Fabrício Carpinejar, tenho unhas igual ao Fabrício Carpinejar, mas não as pintarei igual ao Fabrício Carpinejar. E não é por nada não, mas é que já se trata de marca registrada dele... Eu que vá inventar a minha. Quanto custa uma sombrinha amarela?
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 1 de junho de 2012)

3 comentários:

J.Cataclism disse...

Haha muito legal! Baita texto.
Começa comprando uma cueca vermelha heheheheh

marcos fernando kirst disse...

Cueca vermelha eu já tenho!! Porém, amarela.....

Anônimo disse...

...amarela é só pro Ano Novo, conforme uma amiga que também as vende.

Bem, vá lá, opções não faltam. Gostei mesmo é dos nomes das cores!

J.Cataclism