Como é difícil sairmos da zona
de conforto que nós mesmos tecemos em nosso entorno pessoal. Como é difícil
alterarmos em nós os hábitos encravados em nossas essências há tantos anos pela
simples repetição de nossos atos e de nossos pensamentos. Isso decorre
diretamente da desvontade que temos em ousar, devido à preguiça em destinar
esforços para palmilhar novidades.
Tememos o novo. Somos seres de
hábitos, sem nos importarmos muito se esses hábitos são positivos ou negativos.
Parece que basta ser hábito para que justifiquemos dentro de nós a repetição de
seu uso e a imutabilidade de sua presença na consolidação de nossos atributos
pessoais. Deixar de fumar? Sim, o fumante sabe racionalmente que seria bom para
sua saúde abandonar o cigarro. Mas trata-se de um hábito, então... Emergir do
fundo da fofura de nossos sofás, dando um chega prá lá no sedentarismo e
passarmos a fazer exercícios pelo menos duas vezes por semana? Sim, sim... a
partir da semana que vem... quem sabe... talvez... uhum...
Mas não pensem que estou aqui me
travestindo de filósofo de botequim, a aspergir lições de moral trajando sunga
no baile da gala, não. Trata-se mais de um mea-culpa
do que de uma pregação respaldada em virtudes. Também eu coleciono cá minhas
imutabilidades perenes. Basta ver a mim e à minha esposa em uma pizzaria, por
exemplo. Caso o estimado leitor (ou leitora) nos visualize noite dessas em uma
mesa de pizzaria, cada um com os olhos enterrados em seu respectivo cardápio, pode
apostar com quem estiver com você: iremos pedir marguerita e portuguesa. É
batata!
Nós chegamos, sentamos, recebemos
os cardápios e ficamos ali, vários minutos em silêncio, cada um percorrendo com
os olhos as dezenas de suculentos e apetitosos sabores para ao final, sempre,
invariável e imutavelmente, pedirmos: marguerita (ela) e portuguesa (eu). A de dezessete
queijos, a de atum com brócolis, a de costela com batata palha, a de aspargos e
gorgonzola (humm) ficam sempre para a próxima vez. E, na próxima vez, pode
apostar: será, de novo, marguerita e portuguesa.
Que coisa mais
difícil mudar uma cisma. (Crônica publicada no jornal Pioneiro em 2 de setembro de 2014)
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