quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Nu sem a mão no bolso

Nós, seres humanos, somos uns bichos esquisitos. Pertenço à espécie há quase meio século e continua sendo difícil me acostumar. Fazemos coisas complicadas de explicar e, na maioria das vezes, não temos maturidade para arcarmos com as devidas consequências. Há quem defenda a tese de que errar é humano e que persistir no erro é burrice. Porém, quanto mais conheço os humanos – até por ser um típico representante deles –, mais me convenço de que o ditado carece de calibragem. O correto talvez seja: errar é burrice; persistir no erro, isso sim, é humano, infelizmente.
Mas eu falava sobre esquisitices humanas, e vamos ficar hoje na superficialidade delas mesmo, porque não estou lá muito a fim de mergulhar nas águas profundas da filosofia (anti) humanística, especialmente em uma semana como esta, mais curta devido a um feriadão tão benfazejo e tão humanitário. Pois não é esquisita essa mania que temos, nós, bichos humanos, de nos cercarmos de tantos penduricalhos e aparatos artificiais, a ponto de, quando eventualmente saímos à rua sem eles, nos sentirmos nus, pelados, como se retrocedêssemos aos tempos das cavernas? Sim, porque, na era das cavernas, reza a História e a Antropologia que andávamos nus em pelo e barba. Eu não contraponho porque tenho só quase meio século de existência, como já disse, e não me lembro de nada antes de meu nascimento e juro que só ando pelado dentro do box do banheiro.
Mas confesso que me sinto nu quando saio às ruas sem minha pasta de trabalho, por exemplo. Minha esposa sofre a mesma vertigem quando sai de casa sem a bolsa. Meu cunhado, sem o aparelho celular (smartphone, corrijo-me); minha irmã, sem as chaves da casa; minha cunhada, sem meu sobrinho; meu outro cunhado, sem a camisa do Grêmio; um amigo meu, sem seus livros; outro amigo, sem a carteira; o sogro, sem o pente. Em resumo, somos, todos, dependentes dos penduricalhos nos quais nos escoramos para justificar a nós mesmos o tamanho de nossa frágil humanidade.

Somos esquisitos, é verdade, mas esse aspecto soa mais engraçado do que qualquer outra coisa (eu avisei que hoje tenderia para o sumo do superficial). De qualquer forma, preocupante mesmo seria sairmos de casa desprovidos de nossa humanidade e não nos sentirmos nus por causa disso. Agora, sim, a coisa aprofundou um pouquinho. Pensemos. Até amanhã.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 10 de setembro de 2015)

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