sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Síndrome de Topo Gigio

Gente, como chove! Mas como chooooove (e o enfileiramento de “os” se dá aqui não como uma elegia ao mais popular site de buscas da internet, mas sim como metáfora visual em que cada redondinho da letra simboliza uma nuvem carregada de pingos prontos a serem despejados sobre nossas cabeças e telhados, tanto as ocas quanto as calvas – as cabeças –, tanto os de zinco quanto os de vidro – os telhados). Agora, nunca vi chover tanto! Que aninho mais chovido este, hein?
A verdade é que, contabilizando, nunca perdi tanto guarda-chuva às voltas por mês como neste ano chuvento. Nunca levei tanta pedra de gelo na cabeça! Nunca recolhi tanta roupa encharcada do varal ao voltar para casa no início da noite! Nunca fiquei com tanta vontade de dormir só mais um pouquinho de manhã cedo! Nunca desejei tanto ficar dentro de casa (e cada ponto de exclamação que meto no texto sintoniza com o estrondo de um raio que desce vertical lá fora)! Cabruuum! Lembrei do Topo Gigio cantando “Chove, Chuva” ao lado do Agildo Ribeiro, e não me perguntem quem é um e quem é outro que minha memória já fraqueja e posso confundir o artista com o rato. Quiser saber, pesquise no Google ou converse com seus avós. Dias de chuva são convidativos para fazer visitas aos avós. Fica a dica.
Mas, voltando à nossa conversa de elevador, e o frio, hein? Como tem feito frio! E tem gente dizendo que não teve frio este ano. Mas como que não teve? Claro que teve! Aqui em casa, ao menos, teve! Quem diz o contrário, ou sofre de amnésia, ou anda comendo palito de fósforo. Aceso. Porque, aqui, faz frio e chove (frio dentro e chuva fora, pelo menos isso). De noite, na cama, é um tal de puxa coberta, empurra coberta, rouba coberta, resgata coberta. Não sei o que esquenta mais: se as cobertas em si ou se a movimentação que elas induzem.

Só que não era sobre nada disso que eu queria falar aqui hoje. Escrever, melhor dizendo. Melhor teclando. Não era sobre nada disso que eu queria escrever aqui hoje. Mas a gente se viu, fomos entrando, engrenei um papinho de elevador na abertura da crônica para irmos quebrando o gelo e esquentando o ambiente e deu no que deu: chegamos ao fim do texto e... Cadê crônica? Desse jeito, vou atrair raios e trovoadas sobre minha cabeça ocalva (oca e calva), receber pedradas em meu telhado de vidro e acabarei ficando na geladeira. Melhor me emendar na próxima.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 18 de setembro de 2015)

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