domingo, 20 de julho de 2014

Cachorrada cientifica

Ah, esses cientistas maravilhosos e suas pesquisas transformadoras! Eu sou vidrado nessas notícias surpreendentes sobre descobertas de ponta realizadas em laboratórios desconhecidos decorrentes de experimentos com voluntários de todos os tipos, comprovando teses até então inimagináveis.
 Adoro descobrir que quem come mais melancia vive seis dias a mais do que quem come bergamota, coisas desse tipo. E sou altamente influenciável por tudo aquilo que leio, porque acredito no poder da palavra impressa. Uma vez que melancia é melhor do que bergamota, passo um período me fartando de melancia e discriminando as bergamotas. Isso até me deparar com outra pesquisa indicando o consumo de bergamotas (com casca, semente e felpinhos) como benéficas contra a queda de cabelo. Ah, é na hora que jogo pela janela as melancias (isso foi apenas uma figura de linguagem, ok?) e sequestro sacas e sacas de bergamotas na feirinha aqui do lado do prédio onde moro. Isso sou eu, o mais feliz cidadão influenciável pela ciência do planeta.
Agora a notícia científica que me ataranta vem de um laboratório na Escócia, afirmando que possuir um cachorro de estimação tem o poder de fazer com que a pessoa se sinta até dez anos mais jovem. Ah é? Pois agora, quero um cãozinho. Vou esperar minha esposa chegar e anunciar que amanhã mesmo haverá um cão nessa casa e, com isso, ela passará a ter um marido rejuvenescido em uma década. Não! Dois! Dois cãezinhos! Totó e Tutu! Decidido! Dois! Quero voltar a me sentir com aqueles revigorantes vinte e poucos anos! Ah, que maravilha essas descobertas da ciência moderna!
A descoberta do tal cientista escocês é fruto de pesquisas feitas sobre o comportamento de 547 pessoas (isso que dá credibilidade para a coisa toda... foram 547 analisados, e não apenas 324 ou insignificantes 436...). Havia aqueles com cãezinhos e os sem cãezinhos. Ah, mas foi tudo de bom com os cãezinhos, e foi uma tristeza com os sem cãezinhos, cheguei a ficar com pena! Além de se sentirem mais jovens, os com cãezinhos fazem mais exercícios por dia do que os outros, porque passeiam com seus animaizinhos e ainda por cima ampliam sua rede social, pois se encontram na rua com pessoas (outras com cãezinhos e também algumas sem cãezinhos, que param para admirar o seu cãozinho), passam a conhecer os vizinhos e podem adicionar mais amigos no facebook.

Está decidido. O que a esposa pode é discordar dos nomes, mas amanhã mesmo estarei passeando pelo parque com Totó e Tutu, ou seja lá quem forem. Totó, Tutu e eu, lépido e fagueiro, no alto de meus rejuvenescidos vinte-e-tantos aninhos!
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 19 de julho de 2014)

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