sexta-feira, 18 de julho de 2014

Calorias relativas

Está comprovado: o Faustão engorda. Não, não, espere, posso ter me expressado mal ao iniciar esta crônica com frase deliberadamente ambígua. Não estou me referindo a algum suposto processo de engorda repentina a acometer o famoso apresentador de televisão que invade as tardes de domingo da população brasileira há décadas. Refiro-me é aos efeitos biológicos de assistir a programas semelhantes ao dele, que agora foram detectados em laboratórios suecos. E a questão é que engorda.
O que acontece é que os cientistas da Universidade de Uppsala, na Suécia, fizeram lá suas pesquisas com algumas centenas de voluntários e chegaram a uma instigante conclusão, agora divulgada pela mídia internacional: assistir a programas de televisão considerados chatos pode fazer a pessoa comer 50% mais porcarias do que quando ela está assistindo a programas divertidos e agradáveis. Ou seja, saindo do sueco e traduzindo para o brasileiro: afundar no sofá, em frente ao Faustão, engorda.
Sim, porque, conforme os mesmos cientistas, o que você busca quando se afofa no sofá da sala esgrimindo o controle remoto da tevê é prazer e satisfação. E se esse deleite e essa satisfação não são satisfeitos com aquilo que transita na telinha à frente de seus olhos, o seu subconsciente, esse sacana, induz você a ir buscar no consumo de porcarias (salgadinhos, chocolates, refrigerantes e afins) aquela sensação de prazer que você tanto está desejando. E aí é aquilo: pobre da balança no dia seguinte, que vai escutar poucas e boas, além de ter de aguentar em cima dela os quilos a mais que você mesmo cultivou ao longo do final de semana.
Um dos testes realizados lá em Uppsala foi assim: fizeram a turma assistir a um programa humorístico de auditório e depois a um documentário sobre arte. E anotaram nas planilhas para ver em que ocasião a turma devorava mais chipitos e porcarias. Resultado: comeram muito mais assistindo ao documentário do que ao programa de auditório. Conclusão: comem mais quando assistem a programas chatos. Só que é aí, amigos leitores, que entra em cena a questão da subjetividade, que põe por terra todo o rigor científico da conclusão da pesquisa. Quem disse que documentário sobre arte é mais chato do que programa de auditório?

Ainda bem que eu não estava lá em Uppsala entre os voluntários, porque, se estivesse, embaralharia os resultados da tal pesquisa, por não suportar o apresentador sueco colega do Faustão. E teria ficado vidrado na tela durante a exibição do documentário sobre arte, dito chato para os demais. “Tudo é relativo”, diria Albert Einstein, comendo pipoca.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 18 de julho de 2014)

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