sábado, 6 de junho de 2015

Desaconselho útil

Este cronista que vos escreve não é nenhum modelo de virtude inexpugnável passível de servir de exemplo de nada a ninguém, ele bem sabe disso, e é por isso que se exime de ficar aqui utilizando estas mal-digitadas linhas para tecer conselhos de conduta a quem quer que seja, a fim de evitar transformar-se em alvo de críticas do tipo “faça o que ele diz, mas não faça o que ele faz”, essas coisas. Ciente disso, prefere o cronista em questão dedicar-se à prática dos desaconselhamentos úteis, ou seja, ao invés de aconselhar, já que não possui habilitação para dar conselhos a ninguém, mesmo porque conselhos, se bons fossem, vendidos seriam, e não dados, como bem sabe o vulgo, melhor então oferecer ao leitor o outro lado da moeda, que talvez lhe possa vir a ser útil por vias inversas, se é que me faço entender nestas já citadas mal-digitadas e agora longas-de-morrer linhas.
Vamos então ao desaconselhamento do dia. Trata-se de um desaconselhamento específico, porque também não vamos aqui enfileirar desaconselhos porque daí a coisa descamba para o exagero e ninguém absorve nada. Desaconselho, então, o leitor a fazer o que fiz e, por experiência vivida e sofrida, é que digo: não faça em casa se você não estiver com mais tempo do que imagina; não faça em casa se você não se certificar de que está com toda a sua louça devidamente limpa e pronta para uso total e imediato (isso inclui panelas de todos os tipos, todos os talheres, caçarolas, coadores e até o saca-rolhas, porque nunca se sabe); não faça se você não tiver espaço para ir empilhando a louça suja; não faça se você não tiver ingredientes no dobro da quantidade pedida pela receita, porque o erro exigirá meter tudo fora e reiniciar o processo; não faça se você não contar com alguém que o ajude, porque serão necessárias pelo menos quatro mãos em ação; não faça se você estiver propenso ao mau humor nesse dia; não faça se estiver verdadeiramente com muita fome. Se depois disso tudo, mesmo assim optar por fazer, faça, mas depois não venha me dizer que não desaconselhei.

Terminada a crônica, com licença que preciso lavar a montanha de louça de ontem à noite, quando, desavisado, meti-me a fazer pela primeira vez na vida a clássica receita de ovos beneditinos. Malditinos, isso sim. Ninguém tinha me avisado antes...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 6 de junho de 2015)

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