terça-feira, 30 de junho de 2015

Pneu furado

Independe de grau de instrução, independe de raça, independe de credo, independe de profissão, independe de classe social, independe de altura, independe de peso, independe da dieta adotada, independe do temperamento, independe da fama, independe de estado civil; mas depende, isso sim, de gênero, e homem que é homem precisa saber trocar pneu furado de carro em beira de estrada. Por mais que as mulheres venham conquistando seu merecido espaço na sociedade, combatendo o machismo e provando serem cidadãs tão (de minha parte, afirmo que mais) competentes e plenas quanto os homens, existe uma tarefa que ainda cabe a nós, homens, como se fosse uma espécie de reserva de mercado: pneu furou, acende o farol, sim, mas você, amigo leitor, vai ter de trocar. Ah, vai.
Saber empunhar uma chave de rodas com segurança e determinação é o mínimo que se espera de qualquer indivíduo do sexo masculino portador de carteira de motorista, que se ponha a dirigir seu veículo pelas generosamente esburacadas estradas de nosso país rodoviário. É nessa hora, meu amigo, que sua namorada, sua esposa, sua mãe, sua sogra, sua irmã, sua cunhada, sua amiga, sua colega, sua noiva, vai avaliar silenciosa e profundamente suas características e concluir o melhor ou o pior a respeito de sua pessoa. Vai por mim. O pneu estoura, o carro se desequilibra, você para no acostamento (rezando para que haja acostamento onde o contratempo surgir), salta do carro, dá aquela arrodeada e sentencia para a(s) mulher(es) que estiver(em) junto: “furou o pneu, não se preocupem, vou trocar”.
E cabe a você ir lá, pegar o macaco, a chave de rodas, macaquear o carro, soltar os parafusos, arrancar fora o pneu furado, encaixar o estepe (que deverá estar em condições razoáveis de rodagem), encaixar de volta os parafusos e retornar a trafegar, as mãos repletas de graxa e sujeira, sim, mas a sua alma de motorista confiável totalmente imaculada frente à esposa, à noiva, à namorada, à sogra, enfim, a elas. Porque era só o que faltava esperar que uma delas tenha de saltar e efetuar a troca do pneu. Se isso ocorrer, meu amigo, não será apenas o pneu que será trocado, vai por mim... Já volto, vou lavar as mãos.

 (Crônica publicada no jornal Pioneiro em 30 de junho de 2015)

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