quinta-feira, 11 de junho de 2015

Dilema astronômico

Daí, em meio à crise econômica que é uma das piores da história recente; em meio ao aumento da violência urbana que oferece um cardápio de renovados horrores a cada dia que passa; em meio ao esfacelamento das regras básicas de convívio em sociedade; em meio ao moedor de carne que se transformou o trânsito de veículos nas ruas e nas estradas do país; em meio à porteira escancarada para a corrupção em todas as esferas possíveis e imagináveis, em meio a tudo isso, o olho bate naquelas notícias que tendem ao inusitado, claro, porque, convenhamos, é preciso um refresco para amenizar a temperatura interna que sobe frente a tanto descalabro.
Daí que então fica-se sabendo que a má notícia agora vem lá da Nasa, a Agência Espacial norte-americana, cujas preocupações não se voltam às misérias enfrentadas por um país de periferia como o Brasil, mas que volta os olhos e os esforços para questões mais estratosféricas, digamos assim, para não perder a mão na tendência de tentar encontrar trocadilhos e metáforas afins. A Nasa, pelo jeito, também não anda passando lá por uma de suas melhores fases, a julgar pelo que nos mostra a imprensa internacional. Agora, dia desses, andou falhando pela segunda vez o teste que a cientistada fez para botar em ação um pára-quedas gigante que permitiria, caso funcionasse direito, que se alcançasse a suavidade necessária de pouso para futuras naves que deverão rumar a Marte nas próximas décadas (provavelmente repletas de brasileiros fugindo da terra de ninguém em que isso aqui está se transformando).

Dessa vez, o tal pára-quedas tamanho família parece que não abriu direito e o protótipo de nave espatifou-se em algum deserto escolhido para testes nos Estados Unidos. Na tentativa anterior, parece que houve um rasgo que resultou também em espatifanças. Eles que acertem esse negócio, porque, antes disso, eu é que não entro em nave alguma rumo a Marte assim tão cedo. Mas bem que gostaria. Ah, gostaria. Porque a coisa aqui em baixo está ficando danada, e os marcianos que se preparem porque vamos invadir a praia deles logo, logo. Assim que organizarem esses pára-quedas aí, eu entro na fila com toda a obra do Balzac em baixo do braço (não cabe sob apenas um braço, terei de levar em um carrinho ou daunloudada no ipad), me estabeleço dentro de uma cratera marciana que será só minha e tchau e gracias. Mas, enquanto isso...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 11 de junho de 2015)

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