Muitas pessoas que leram e
acompanharam a saga de meu amigo Argentino durante o Carnaval, quando
participou do Bloco da Velha, serpenteando pelas ruas da cidade junto à massa
de milhares de foliões e perdeu seu telefone celular, causando-me um certo
transtorno que prefiro não relembrar, essas pessoas, as que leram, muitas delas
me contataram pedindo mais detalhes sobre a personalidade e a história de vida
deste meu singular parceiro de longa data. Argentino tem um jeito muito
particular de ser, de se relacionar com as pessoas e com o mundo ao seu redor,
conforme meus leitores mais antigos já detectaram, pois que, sazonalmente, ele
inspira alguns de meus textos, haja vista que, em sendo (eu) cronista mundano,
seria um descalabro deixar passar certas coisas, sob o risco de nunca mais
receber os bafejos benfazejos da inspiração.
Argentino já fez download de uma
ferramenta de trabalho virtual cujo ícone era um macaquinho azul e foi
perseguido dentro de casa pelo bicho, que materializou-se na sala enquanto
Argentino dormia, após concluído o baixamento do programa. Argentino já quis
sequestrar a filha do Silvio Santos, essa que hoje é apresentadora de TV, por
ter se apaixonado por ela e ameaçou, em setembro de 2001, roubar um monomotor e
se chocar contra o Monumento ao Imigrante caso ela não lhe desse bola. Ela não
deu e consegui dissuadi-lo de seus intentos a tempo. Prova disso é que o
Monumento ao Imigrante segue ali, ereto, incólume, impávido, colosso, às
margens da BR-116.
Mas como ele veio parar em
Caxias do Sul? É o que quer saber os leitores. Sem que ele saiba (porque não lê
minhas crônicas) e sem que autorize, revelo. Argentino foi esquecido aqui por
seus pais em meados da década de 1970, quando regressavam à Argentina de carro,
após uma temporada de 15 dias de chuva em Camboriú. Foi esquecido em um posto
de gasolina em Caxias, à noite. Contava, na época, 16 anos de idade. Entrou no
banheiro do posto e, como demorou-se demais, os pais seguiram viagem e só foram
notar sua falta já em Posadas, na Província de Misiones.
Eu nunca acreditei muito nessa
versão, sustentada até hoje por ele mesmo. Só foram perceber sua ausência ao
chegarem em casa? Ora, Argentino sempre foi um cara agitadíssimo, não para
quieto, não dorme em viagem, fala ininterruptamente. Faz-se notar o tempo todo.
Mas, desde então, recebeu mesadas polpudas dos pais, que o incentivaram a
“fazer a vida” no Brasil mesmo. Daí ele foi ficando. Generosos os pais dele.
Espertos, também.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 4 de março de 2016)
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