Nas reportagens que estão
correndo o mundo, ela aparece na foto principal sorrindo e erguendo um brinde
com uma garrafa de cerveja. Um brinde à vida, um brinde à alegria de viver, um
brinde ao bom senso, um brinde à coragem, um brinde ao que pode haver de melhor
nas motivações de um ser humano, mesmo frente à maior das adversidades: a
certeza da morte. Ela se chama Norma. Ela mora nos Estados Unidos. Ela está com
91 anos de idade. Ela tem câncer terminal. Ela vai morrer. Mas ela decidiu,
antes disso, viver. E intensamente.
Desde que descobriu, ano
passado, aos 90 anos, que estava com um câncer incurável nos ovários e que a
alternativa que a medicina lhe apresentava era uma cirurgia de alto risco
seguida (caso sobrevivesse à operação) de sessões de quimioterapia que lhe
causariam terríveis efeitos colaterais, agravados pelo avanço da idade, Norma
tomou uma decisão irrevogável. Não faria cirurgia coisíssima nenhuma e
aproveitaria seus últimos meses de vida viajando de ponta a ponta pelos Estados
Unidos conhecendo lugares, vendo gente diferente, se divertindo, respirando,
saudando o sol, agradecendo a chuva, curtindo a noite, bebendo cerveja de vez
em quando, coisas assim. Ótima e sábia decisão, sabendo-se que as alternativas
a isso eram ou a morte na mesa de cirurgia ou um leito de hospital, esperando a
mesma morte. Até seus médicos a apoiaram.
Se é para esperar a morte, pensa
ela, que o seja celebrando todos os segundos que houver de vida. É o que Norma
está fazendo, acompanhada pelo filho Tom, pela nora Ramie e pelo cãozinho de
estimação Ringo. Ela vendeu a casa em que viveu 67 anos com seu marido, morto
ano passado em decorrência de câncer, e adquiriu um trailer, com o qual caiu na
estrada. Foi ao fazer exames após a morte do marido que detectou-se também nela
a doença. Mesmo em luto pela perda do companheiro, Norma já está há seis meses
viajando. Conheceu a Disneylândia, visitou o Grand Canyon, experimenta comidas
típicas nos lugares por onde passa, vê gente diferente, anima os sentidos e,
por meio deles, a alma. Sente-se bem, está disposta e os familiares publicam
suas aventuras em uma página no Facebook (basta acessar “Driving Miss Norma”,
que significa “Conduzindo Miss Norma”), onde é seguida por 86 mil pessoas (número
que só cresce).
A história de Norma fala por si.
Dessa vez, não há necessidade de o cronista elaborar um fecho criativo para a
reflexão do leitor. Palavras a mais seriam somente palavras ao vento. Longa
vida a Norma.
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