quarta-feira, 2 de março de 2016

E o Oscar foi para...

“You can´t always get what you want”. Já vou traduzir, já vou traduzir. É que eu quis abrir a crônica direto com a frase no original, conforme composta pela dupla roqueira Mick Jagger e Keith Richards, da banda inglesa Rolling Stones que sacudirá  Porto Alegre hoje à noite. Em tradução livre, o refrão da música de mesmo nome significa algo como “você não pode ter tudo o que deseja”. Mas pode, sim, tentar bastante e, algumas vezes, obter o que precisa. É por aí que vai a canção, que serve de base para tecer algumas reflexões sobre a vida, como sói acontecer com as obras de arte de qualquer natureza.
Se é verdade que não podemos ter sempre tudo aquilo que desejamos (que é o que vamos aprendendo a duras penas desde que nascemos), também é verdade, por paralelismo de sentido e intenção frasal, que não podemos ser tudo aquilo que imaginamos. Querer tudo é questão de aprender a domar o egoísmo e a ganância. Querer ser tudo é questão de aprender a domesticar o ego. Nem sempre é fácil.
Vejamos, por exemplo, o que aconteceu no trânsito da noite do último domingo para a madrugada de segunda-feira, durante a transmissão televisiva da entrega do Oscar. A Rede Globo decidiu escalar a atriz Glória Pires para integrar um time encarregado de fazer os comentários pertinentes à premiação ocorrida em Los Angeles, nos Estados Unidos. Diferentemente do que se esperava, para surpresa de todos, Glória pagou mico ao vivo ao não avançar em seus comentários muito além de expressões como “bacana”, “gostei, muito bom esse filme” e “esse eu não assisti”. Pouco acrescentou (para não dizer “nada”) em termos de informação para o telespectador notívago do lado de cá da telinha, deixando a impressão de não ter assistido aos filmes e de não ter se preparado convenientemente para o desafio. Uma lástima.

É indiscutível que Gloria Pires é uma das mais competentes atrizes brasileiras da atualidade, ao lado de Fernanda Montenegro, Fernanda Torres, Regina Duarte e poucas outras. Mas isso não lhe confere credencial automática para ser também comentarista de cinema. Isso ela não é. Porque não se pode ser tudo o que se imagina na vida, ou que se deseja, ou que pedem (ou ordenam) para sermos. Dizer “sim” a tudo, além de denotar subserviência, também pode levar a escorregar nas armadilhas decorrentes do culto ao próprio ego. Precisamos de foco, direção, dedicação e verdade naquilo que fazemos. Caso contrário, queimamos o filme e o Oscar vai para a concorrência.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 2 de março de 2016)

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