“You can´t always get what you want”. Já
vou traduzir, já vou traduzir. É que eu quis abrir a crônica direto com a frase
no original, conforme composta pela dupla roqueira Mick Jagger e Keith
Richards, da banda inglesa Rolling Stones que sacudirá Porto Alegre hoje à noite. Em tradução livre,
o refrão da música de mesmo nome significa algo como “você não pode ter tudo o
que deseja”. Mas pode, sim, tentar bastante e, algumas vezes, obter o que
precisa. É por aí que vai a canção, que serve de base para tecer algumas
reflexões sobre a vida, como sói acontecer com as obras de arte de qualquer
natureza.
Se é verdade que não podemos ter
sempre tudo aquilo que desejamos (que é o que vamos aprendendo a duras penas
desde que nascemos), também é verdade, por paralelismo de sentido e intenção
frasal, que não podemos ser tudo aquilo que imaginamos. Querer tudo é questão
de aprender a domar o egoísmo e a ganância. Querer ser tudo é questão de
aprender a domesticar o ego. Nem sempre é fácil.
Vejamos, por exemplo, o que
aconteceu no trânsito da noite do último domingo para a madrugada de segunda-feira,
durante a transmissão televisiva da entrega do Oscar. A Rede Globo decidiu
escalar a atriz Glória Pires para integrar um time encarregado de fazer os
comentários pertinentes à premiação ocorrida em Los Angeles, nos Estados
Unidos. Diferentemente do que se esperava, para surpresa de todos, Glória pagou
mico ao vivo ao não avançar em seus comentários muito além de expressões como
“bacana”, “gostei, muito bom esse filme” e “esse eu não assisti”. Pouco
acrescentou (para não dizer “nada”) em termos de informação para o
telespectador notívago do lado de cá da telinha, deixando a impressão de não
ter assistido aos filmes e de não ter se preparado convenientemente para o
desafio. Uma lástima.
É indiscutível que Gloria Pires
é uma das mais competentes atrizes brasileiras da atualidade, ao lado de
Fernanda Montenegro, Fernanda Torres, Regina Duarte e poucas outras. Mas isso
não lhe confere credencial automática para ser também comentarista de cinema. Isso
ela não é. Porque não se pode ser tudo o que se imagina na vida, ou que se
deseja, ou que pedem (ou ordenam) para sermos. Dizer “sim” a tudo, além de denotar
subserviência, também pode levar a escorregar nas armadilhas decorrentes do
culto ao próprio ego. Precisamos de foco, direção, dedicação e verdade naquilo
que fazemos. Caso contrário, queimamos o filme e o Oscar vai para a
concorrência.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 2 de março de 2016)
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