terça-feira, 8 de abril de 2014

Divagação aos cubos

Uma das premissas básicas da ciência é a de que suas leis, para obterem o status de leis, precisam caracterizar-se pela imutabilidade. Ou seja: pelo menos em ciência, lei é lei. Exemplo disso é a lei da gravidade, que puxa de encontro ao solo tudo aquilo que teima em inventar de ficar suspenso no ar por alguns instantes. Aviões sempre retornam para baixo (por bem ou por mal), pão com geleia sempre despenca da beira da pia e emporcalha o chão da cozinha recém varrido e por aí vai.
Mas a incerteza também parece rondar as férreas leis científicas, provocando abalos que, se não as põem por terra como aos aviões, ao menos criam brechas para a desconfiança, o que, para o espírito humano, sempre foi uma motivação para o avanço evolução adentro. Algumas leis, portanto, não parecem tão sólidas assim. Exemplo disso é aquela frase famosa que aprendemos nas aulas de matemática: “a ordem dos fatores não altera o produto”. Até pode valer para a matemática, mas não se sustenta no interior de Otávio Rocha, quando o assunto é a caipirinha preparada pelo atendente do bar no salão comunitário em que rola um dos menarostos mais fabulosos da Terra.
Ali, a ordem dos fatores altera, sim, o produto, e como! Obtive a prova científica disso no domingo passado, quando fui, com alguns familiares, deleitar-me ao meio-dia no evento gastronômico comunitário realizado em uma das capelas daquele distrito de Flores da Cunha. Já abancados em nosso canto do mesão no salão, coube a mim a tarefa de ir buscar uma caipirinha a fim de animar a espera pela chegada da comida. Trouxe o dito drinque, porém, a ala feminina da família achou que havia gelo de menos e minha cunhada retornou ao bar com o copo. Enquanto esperava a reposição dos cubinhos, ela observou o método utilizado pelo atendente para produzir as caipirinhas e retornou à mesa anunciando ter descoberto o motivo pelo qual aquela caipirinha estava tão saborosa: o atendente a produzia colocando os ingredientes na ordem certa, ou seja, na mesma ordem de feitura adotada por minha cunhada, famosa na família e arredores pela qualidade da caipirinha que sai de suas canecas.

É claro que a ordem de colocação dos produtos altera a caipirinha. Experimente começar tudo com a canha sem antes socar o limão com o açúcar no fundo do copo, para ver no que vai dar. A ciência, aos menos nos domingos de menarosto, não está com nada...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 8 de abril de 2014)

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