quarta-feira, 2 de abril de 2014

O coração de Dumont

O senso comum nos ensina que o atributo da generosidade humana reside no coração. Como bem sabem nossas avós, quanto maiores forem as dimensões do órgão responsável por bombear o sangue pelas veias e artérias do corpo humano, maior também será a capacidade de seu possuidor em praticar a generosidade e a filantropia em benefício dos outros.
Trata-se de uma equação diretamente proporcional. É isso o que faz nossas avós, e as avós de nossas avós, bem como as avós das avós de nossas avós, afirmarem com propriedade que “Fulano tem um coração enorme” sempre que desejam se referir a alguém cuja característica principal seja a generosidade. Nenhuma avó duvida disso. Faça o teste com a sua, pergunte a ela e ela lhe dirá. Caso você siga desconfiando, passe o jornal para sua avó ler o que vou revelar a seguir e, concluída a leitura, afaste-se dela rapidamente, porque ela vai esfregar o jornal em sua cara, exclamando “ahá”!
Alberto Santos Dumont, cara avó de meu leitor, o famoso “Pai da Aviação”, tinha um coração enorme. Nos dois sentidos: no literal e no metafórico. Vamos primeiro ao metafórico, que se fazia revelar a partir das ações benemerentes do inventor. Se não bastasse ter legado para a humanidade a técnica para vencer a resistência do ar, permitindo a construção dos aviões, Santos Dumont ainda primava pelo desapego ao dinheiro (até porque já era rico o bastante).
Ao vencer o Prêmio Deutsch, em 1901, cumprindo as metas de navegação aérea com um dirigível contornando a Torre Eiffel, Santos Dumont distribuiu uma parte do polpudo prêmio entre os empregados do seu hangar. A outra parte ele entregou para a prefeitura de Paris, determinando que fossem saldadas as dívidas de todos os trabalhadores franceses que tivessem suas ferramentas de trabalho penhoradas. Virou herói nos dois lados do Atlântico.
Quando morreu, em 1932, teve seu corpo exumado e o médico legista se impressionou com as dimensões físicas do coração de Santos Dumont, comparando-as “às de um bovino”. Ou seja: Alberto Santos Dumont tinha coração grande de fato. Grande e de ouro, uma vez que o órgão, conservado e preservado em uma redoma dourada, está exposto à visitação pública no Museu Aeroespacial, no Rio de Janeiro.

Sua avó sabe tudo de corações, leitor. Mas fuja. Vai que ela esteja buscando a fita métrica para descobrir o tamanho do seu?
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 2 de abril de 2014) 

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