segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Atração científica

Na década de 1970 do século passado, quando eu era criança, meu pai se botou a comprar uma coleção em fascículos lançada pela Editora Abril, intitulada “Os Cientistas”. O barato da coleção, que chegava semanalmente às bancas, era uma caixa de isopor dentro da qual vinham instrumentos, elementos químicos e instruções para reproduzir em casa os experimentos básicos que davam a tônica das descobertas de cada cientista apresentado.
Dessa forma, fui adentrando aos poucos no fascinante universo científico representado por bússolas, tubos de ensaio, microscópios, cadinhos, pinças, pilhas, fios, lâminas, nitratos, sais, essas coisas todas. O interessante é que o acesso a esse material me era franqueado por meu pai e eu me divertia tentando reproduzir os experimentos à tarde, em casa, dentro das quatro paredes de meu quarto. Olhando em retrospecto, só hoje percebo o quão perto esteve o mundo de ver surgir ali, nos recônditos da Rua dos Viajantes, um futuro perigoso cientista louco, mas o Destino quis me conduzir por veredas diferentes, graças aos deuses todos.
Entre tantos elementos que se acumulavam ali naquela coleção de 50 caixinhas de isopor, um dos que mais me chamavam a atenção era um par de pequeninas barras de ferro imantadas nos polos. Eram dois ímãs que se repeliam quando aproximados em seus polos iguais e se atraíam quando aproximados em seus polos opostos. Eu ficava fascinado com o poder mágico de atração daquelas pequenas barras e saía pela casa arrastando clipes, pequenas colheres e outros objetos metálicos que pudessem ser atraídos pela força dos ímãs.

Com o passar dos anos, afastei-me do mundo científico e mergulhei nas ciências humanas do jornalismo e da literatura. O que ficou daquela época e daquelas experiências foi a convicção de que, a exemplo dos pequenos bastões de ferro imantados, nós, seres humanos, somos também poderosos ímãs, capazes de atrair para nossas vidas exatamente aquilo que, no íntimo, mais profundamente desejamos. Nem sempre esses desejos são conscientes. Por isso, é preciso prestar atenção e saber detectar o que estamos atraindo, e o por quê. A resposta para esses casos se esconde no laboratório da alma.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 12 de janeiro de 2015)

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