quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Proposta indecente

Até que ponto os seus valores éticos pessoais são inegociáveis? Você possui princípios inabaláveis, imunes a qualquer oferta? Outra maneira de formular a questão seria perguntando: você topa tudo por dinheiro? Ou: o dinheiro pode comprá-lo? Ou ainda: o dinheiro pode realmente tudo?
Por exemplo, você, mulher, leitora: posaria nua para uma revista masculina por dinheiro? Sim? Não? Dependeria do valor ou quantia nenhuma pagaria pela sua nudez? Não precisa responder, as reflexões são suas, são íntimas, decorrem da firmeza ou não de seus princípios e necessidades. E você, amigo leitor, desistiria de todos os seus projetos de vida (familiares, pessoais, profissionais) por alguma oferta nababesca em dinheiro para sumir do mapa por algum motivo? Sim? Não? Demi Moore protagonizou, em 1993, um filme (“Proposta Indecente”) no qual, por uma oferta de um milhão de dólares, a personagem dela, casada, enfrenta o dilema de aceitar ou não fazer uma noite de amor com um milionário (Robert Redford), a fim de satisfazer o desejo dele por ela e ela solucionar a crise financeira que vive com seu marido. Sintomática a obra.
Pois é, fico pensando nessas coisas quando leio notícias de que artistas famosos como Roberto Carlos e agora a Angélica, que há anos são vegetarianos, se submetem a fazer propaganda de produtos à base de carne vermelha devido a milionários contratos publicitários. Estão lá as fotos do Rei sorrindo defronte a um prato com um enorme hambúrguer, e a Angélica dando-lhe um mordidaço em um cachorro-quente com salsicha e mostarda. Mas ambos são vegetarianos há anos. Se comeram mesmo os produtos carnívoros que são pagos para anunciar não interessa.

A questão é se não estão sendo incoerentes com eles mesmos. Só isso. E se estão, o estão sendo por dinheiro. Problema deles, claro. Problema ou solução, sei lá, a vida é deles, não tenho nada a ver com isso. Apenas esses ídolos não representam minha visão pessoal de coerência. Só isso. Eu ainda acho que eu não faria tudo por dinheiro. Ao menos, quero crer nisso. Mas também, sei lá... Carnívoro como sou, não se espantem se, amanhã ou depois, me virem protagonizando algum comercial de rede de fast-food, devorando um suculento xis-salada... Seria um escândalo.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 21 de janeiro de 2015)

2 comentários:

Angela de Almeida disse...

Parabéns pelo prêmio!! Já fico ansiosa para ler o livro!

marcos fernando kirst disse...

Obrigado, Angela! A esper ainda terá de ser de dez meses, mas valerá a pena! Absss