domingo, 11 de janeiro de 2015

O terror mora aqui

Algumas semanas atrás, no findar de 2014, o palco foi uma bomboniére de luxo em Sydney, na Austrália. Um fanático religioso islâmico, armado e agindo por conta própria, invadiu o local e rendeu as pessoas que estavam ali dentro tomando café, comprando chocolates, fazendo turismo. Foram horas de pânico e de terror até a traumática invasão da polícia, que resultou em três mortes: a do sequestrador e as de dois reféns inocentes.
Agora o mundo ainda assiste perplexo ao desenrolar da ação violenta, insana e injustificada praticada por uma dupla de fanáticos muçulmanos contra uma revista de humor na França, que teve como consequência o assassinato a sangue-frio de uma dúzia de pessoas em plena Paris, a Cidade-Luz, ensombrecida agora pela dor, pelo luto e pelo horror. A barbárie humana não tem medida, não conhece limites, apresenta um inimaginável poder contínuo de superação de seus próprios parâmetros.
Causa náusea pertencer à mesma espécie biológica de seres que assassinam friamente em nome de motivações políticas, pessoais, religiosas, financeiras, o escambau. Pertencemos à mesma espécie que esses degenerados? Biologicamente, sim. Ética, moral, civilizatoriamente, claro que não. O mais assustador é constatar que o terror incivilizado não se camufla somente por trás do perfil de extremistas religiosos que barbarizam nos países do Primeiro Mundo e no Oriente. Esse terrorismo também caminha por aqui, nas nossas calçadas brasileiras, gaúchas e caxienses.
Basta ler os jornais. Ou não é terror igual o fato de uma adolescente de 16 anos, grávida, andando por Caxias do Sul, ser atropelada por um veículo tresloucado dirigido por uma dupla de assaltantes em fuga, e o acidente resultar na morte do bebê? Não é isso um ato tão terrorista quanto o dos fanáticos islâmicos? Não é um ato terrorista levar um tiro na cara disparado por um criminoso que quer roubar seu carro para assaltar ali adiante?

A vida humana nos dias de hoje anda com a cotação em níveis tão baixos quanto na época da Segunda Guerra Mundial. E isso em qualquer parte do planeta. O terror não está só lá do outro lado do mundo. Ele também mora aqui.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 10 de janeiro de 2015)

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