terça-feira, 20 de janeiro de 2015

O desempaca papo

Final de tarde de sábado, horário ainda de verão, dia claro apesar das nuvens que instabilizam o tempo nesta época do ano. O casal de amigos convidados para jantar chega no horário combinado. Gentil e elegantemente, ela traz um pavê de chocolate produzido por ela mesma, para colaborar na sobremesa. Já são de casa, não é a primeira vez que vêm compartilhar sabores e simpatias e a sala é de pronto tomada pelas conversas animadas que vão se interpondo com os drinques que vou alcançando ao sabor do perfil de cada um, a título de aperitivo. Todos os elementos do típico quadro de relax de final de semana entre amigos entram em campo e vão fazendo a sua parte. A noite navega em águas tranquilas e aconchegantes.
Conversa vai, conversa vem, a mesa já está posta com os quitutes preparados para aquilo que se converterá, conforme o previsto, em um longo e agradável happy hour. Dessa vez quem vai dirigir de volta para casa é ela, portanto, as garrafas de espumante terão de ser solucionadas por nós três. E não nos fazemos de rogados: mãos e beiços à obra. Tim-tim!
Tudo vai indo muito bem até que o inevitável acontece, para truncar o andamento fluido da conversa. Quem estava fazendo a digressão era o amigo convidado, que, a fim de ilustrar o que dizia, resolveu evocar os três tenores que cantavam juntos e fizeram sucesso mundial na década de 1990. “Luciano Pavarotti, José Carreras e... e... puxa, quem era o terceiro, mesmo”? Pois é: quem era? Tento ajudar e coloco a funcionar também o meu cérebro, em voz alta: “Pavarotti, Carreras e... e... puxa, me sumiu”! O amigo segue tentando: “Eram o Carreras...”. Minha esposa grita da cozinha: “O Pavarotti!”. “Esse já dissemos, falta o outro”, digo eu. “Pavarotti, Carreras e o... o...”. E ficamos nesse atoleiro, empacando a conversa, até que minha esposa tem a ideia genial de entrar na internet. Pronto, solucionado com uma teclada: Pavarotti, Carreras e Plácido Domingo!

Claro, Plácido Domingo, como fomos esquecer? Agora podemos seguir adiante. A internet desempaca a conversa. Que seria da noite sem ela? Será que no passado não empacávamos? Ou isso, ou consultávamos as... Como era mesmo que se chamavam? As... as... Ah, sim, as enciclopédias! De novo, salvos pelo Google.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 20 de janeiro de 2015)

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