terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Consciência pesada

O Procon, o Inmetro, a Procuradoria, o Vaticano, a Soama, o Giovani Grizotti, o Greenpeace, o Fantástico, enfim, quem, exatamente, não sei, mas alguém deveria assumir a causa e tomar alguma providência contra a comercialização dessas balancinhas caseiras que compramos motivados por sei lá qual espécie de obsessão e que acabam se transformando em causa diária de dor, muita dor, pesadas dores. E põe pesadas nisso, porque, cá entre nós, quem é que gosta de encarar a realidade dos quilinhos a mais adquiridos depois dos inevitáveis festins de final de ano, hein? Quem?
E ainda se fossem apenas “alguns” e tão-somente “quilinhos” a mais, mas sabemos que não é assim. Hoje pela manhã, ao sair do banho e subir mastodonticamente, calcanhar por calcanhar, sobre a balancinha que reside estratégica e psicopaticamente no banheiro, levei aquele susto ao verificar que de fato estavam ali, pendurados em mim, exatos três quilos a mais do que na última pesagem, realizada ainda na alegria da antevéspera decembrina das festividades que estavam por vir. Três! Três mil gramas excedentes espalhados pelo meu corpo. Pior: espalhados, não. aglomerados contando fofoca todos ali, ao redor de minha cintura. Xô, Satanazes!
E vem cá, amiga leitora, parceiro leitor: a gente sabe exatamente, cá em nosso mais pesado íntimo, de onde vem cada punhado desses gramas a mais que a diabólica balancinha se regozija em apontar, não é mesmo? Estão ali os nacos a mais do peru natalino acompanhado pela farofa especial feita pela Tia Germínia; estão ali as fatias de mousse de pepino elaboradas pela nora da cunhada da sobrinha; estão ali os cálices enfileirados de espumante brut da Serra Gaúcha; estão ali as pazadas de lentilha que enfiamos goela abaixo gritando “Feliz Ano-Novo” sob chuva de fogos de artifício na sacada do apartamentão do primo; estão ali as frutas cristalizadas, os chesters, os pavês, os arroz à grega, os panetones recheados, as cervejinhas, os drinques, as caipirinhas, os chocolatinhos no meio da tarde, os copos de Coca-Cola para rebater a ressaca. Está tudinho ali.

A balancinha não mente jamais. Tem horas que essa sinceridade gritante pesa.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 6 de janeiro de 2015)marcos

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