terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Sobre conchas e estrelas

Camboriú em Santa Catarina e a Praia do Cassino aqui no Rio Grande do Sul eram os dois principais cenários de férias litorâneas para meus pais, minha irmã e eu, nos idos dos anos 1970 e início dos 1980. Revisitando fotografias e filmagens caseiras feitas por meus pais naquela época, vou me dando conta de quanta coisa mudou nesses cenários, passadas algumas décadas.
Claro que não vou cometer a imprudência de me deter em questões estéticas dos protagonistas de tais registros visuais, a começar por mim mesmo e a invejável magreza, a ausência de adiposidade abdominal, o bronze obtido pelos bronzeadores (nem se falava em protetor solar na época), a farta cabeleira a proteger os pensamentos do calor do sol e outros quesitos mais. Esses elementos, deixemos de lado na investigação que agora coloco em curso, para o bem de minha autoestima.
Queria mesmo era comentar sobre os saquinhos plásticos transparentes que minha irmã e eu carregamos à beira-mar tanto nas fotografias quanto nas filmagens. Estamos ambos ali, fantasiados de banhistas, eu com cerca de sete anos, minha irmã com quatro, andando para trás e para frente ao sabor das pequenas marolas que vão depositando dezenas de conchinhas marinhas aos nossos pés. Catávamos aquelas  conchinhas, fazíamos coleções e depois insistíamos em transportar de volta para casa na longínqua Ijuí. Uma que outra estrela-do-mar ressequida também era capturada como troféu e, durante alguns dias, no retorno, o cheiro de mar permanecia ainda em nossos quartos devido à presença das conchinhas, até o ponto em que começavam a apodrecer e nos víamos obrigados a jogá-las fora.
Hoje caminho pelas praias de nossos litorais gaúcho e catarinense e meus pés raramente são pinicados pela ponta de alguma conchinha que vem trazida à beira-mar pela rebentação. Nunca mais vi crianças de saquinhos nas mãos compenetradas caçando conchinhas e estrelas-do-mar, e fico a me perguntar se sumiram-se as conchinhas, sumiram-se as estrelas-do-mar, sumiram-se as crianças ou o que sumiu mesmo foi a brisa de poesia que soprava solta dezenas de anos atrás à beira do mar.
Dúvidas, apenas, cujas respostas nem sei se desejo mesmo conhecer.

 (Crônica publicada no jornal Pioneiro em 27 de janeiro de 2015)

2 comentários:

Rafaela disse...

Escrevo para informar que nas praias cariocas não existem mais conchinhas!!!


marcos fernando kirst disse...

Oi rafaela... Sim, acho que as conchinhas migraram para outro planeta....