sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Carnaval Argentino - conclusão

O leitor ainda está aí? A leitora também? Ah, que bom. Então, concluiremos a saga do telefone celular que meu amigo Argentino perdeu em meio à multidão de 19.999 pessoas (seriam 20 mil se eu não tivesse optado por ficar em casa lendo um livro do Daniel Defoe) que transformaram em recorde de público a sexta edição do Bloco da Velha, tradicional evento carnavalesco que animou o centro de Caxias do Sul domingo passado. Argentino pediu emprestado o celular de um novo amigo, Ralphson, parceiro de folia, para me ligar e pedir que eu saísse do conforto de meu lar e fosse até o local onde supunha ter deixado cair o aparelho. Fui até lá e encontrei o celular pisoteado e destruído, sob uma pilha de confetes, serpentinas e a carteira de identidade de uma tal de... melhor não dizer. Isso, soluciono depois.
Mas aí cometi a burrice (pessoas que não participam do Bloco da Velha ficam mais propensas a agir de forma impensada, como foi meu caso) de telefonar para o número do tal do Ralphson, que imaginei estar ainda ao lado de meu amigo Argentino, para informá-lo do sucesso relativo de minha empreitada, pois que encontrara seu telefone, porém, falecido. Atendeu outro folião que havia, por sua vez, pescado do chão o telefone que o saltitante Ralphson também havia perdido. Eu queria falar com Argentino, mas o cidadão insistia em me devolver o telefone de Ralphson e foi difícil convencermos um ao outro de que nenhum de nós era Ralphson.
Decidi desligar e fui para casa, seguir lendo meu livro de Daniel Defoe. No início da semana contataria Argentino e lhe devolveria seu telefone destruído. O problema agora é o sujeito que encontrou o telefone do Ralphson, que não para de ligar para mim, querendo devolvê-lo. Eu insisto em que não sou Ralphson e que nada tenho a ver com a perda desse telefone, mas não tem jeito, a coisa está atolada e, o pior de tudo, impedindo o avanço da leitura do meu livro do Daniel Defoe. E ninguém conhece o tal do Ralphson. Começo a achar que Ralphson não existe, era um codinome de algum folião que quis foliar incógnito no Bloco da Velha.
Agora, Ralphson, quem quer que ele seja, está sem celular; Argentino está com o celular pisoteado e eu estou encrencado com esse folião prestativo que quer devolver a mim o telefone de Ralphson. Já sei. Vou dizer a ele que deixe o telefone de Ralphson lá na Livraria e Café do Arco da Velha, responsável pelo Bloco da Velha. Ralphson que o procure lá. E poderei, enfim, retomar minha leitura de Daniel Defoe, encerrada essa folia de Carnaval.

 (Crônica publicada no jornal Pioneiro em 12 de fevereiro de 2016)

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