terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Marmota profética

O medo é a condição psíquica natural dos seres humanos, responsável pela maioria das ações e pensamentos que movem a humanidade desde a época das cavernas até esses dias regidos pelas redes sociais. A incerteza do que está por vir, do que pode nos acontecer ou deixar de acontecer gera angústia e apreensão e vivemos estressados, amedrontados, lutando contra adversidades reais e imaginárias e nos precavendo contra possíveis futuras desgraças. Gerenciar esse medo primordial é o segredo para uma vida tranquila e é aí que entra em cena a importância dos sistemas sociais e filosóficos concebidos para reger a vida em sociedade, gerando instrumentos para que possamos aplacar na medida do possível esses temores e vivenciarmos uma vida mais plena. Nem sempre dá certo.
Como não temos, a princípio, a habilidade de prever o que o futuro nos reserva, precisamos viver um dia de cada vez, sabendo que é seu somatório que, com o passar do tempo, vai se constituir no tão temido futuro, essa entidade temporal que, a bem da verdade, não existe. Mas não seria reconfortante se fôssemos dotados do dom da precognição, aquela habilidade paranormal que permite sabermos de antemão os eventos que estão reservados às pessoas e ao mundo nos dias futuros que, por ora, só existem previstos e impressos nas folhinhas dos calendários e das agendas?
Profetas, visionários e paranormais preenchem vastas páginas da história da humanidade, nem sempre sendo encarados como embusteiros ou estelionatários, mas, ao contrário, levados a sério por muita gente (inclusive e especialmente pelas castas dirigentes), em muitas partes do mundo, ao longo de muito tempo. Sabe-se que até Júlio César mantinha adivinhos em Roma que previam o sucesso (ou não) de suas batalhas. Há quem bote as cartas, há quem tenha sonhos, há quem perscrute as estrelas e mesmo o voo dos pássaros para adivinhar o futuro. Nos Estados Unidos, hoje (2 de fevereiro) é o Dia da Marmota, em que comunidades de várias regiões geladas aguardam o movimento desse roedor, típico daquelas paragens, ao sair de sua toca para prever se o fim do inverno está próximo ou ainda se alonga.

Eu não sou adivinho, mas ousarei uma profecia. Não temos marmotas aqui no Brasil, mas não demorará muito para estarmos também celebrando o Dia da Marmota, imitando os ritos culturais da matriz norte-americana. Vide o Halloween, que agora fazemos igualzinho a eles. Vai que um dia imitemos também a seriedade no combate à corrupção. Alguém arrisca uma previsão aí?
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 2 de fevereiro de 2016)

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