terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Carnaval Argentino - Parte 1

Criou-me problemas o público recorde e gigantesco que afluiu ao Bloco da Velha que, em sua sexta edição no Carnaval deste ano, reuniu cerca de 20 mil pessoas a brincar pelas ruas da cidade, domingo. Vinte mil pessoas não é coisa pouca. Em se tratando de Caxias do Sul, município com estimados 475 mil habitantes, trata-se de cerca de 4,2 por cento da população. É muita coisa. É muita gente. É muita festa. É muita alegria.
Esse número (20 mil pessoas), na verdade, precisa ser relativizado. Quem quer que tenha contado as gentes que lá estavam, formigando quadras e quadras do centro da cidade desde o início da tarde de domingo até a noite, deve ter chegado a esse total a partir do uso de ferramentas lógicas de cálculo e prospecção de multidões. Claro que 20 mil é um número arredondado. Para chegar a ele, devem também ter levado em conta a imensa lista daquelas pessoas que prometem ir, mas tem as que acabam não indo, como eu, por exemplo, que, pela sexta vez consecutiva, não estava lá (devido à mais pura e irremovível inércia carnavalesca). Sendo assim, começamos a chegar a um número mais próximo da realidade das ruas no domingo no Bloco da Velha: 19.999 pessoas, já que eu me encontrava sentado no sofá da sala de casa, os pés sobre um pufe cor-de-laranja, nas mãos um livro de Daniel Defoe.
Daí veio o incômodo. Não devido ao evento em si, que admiro, defendo e propagandeio, mas, sim, de um participante da festa: Argentino, um amigo meu de longa data que, sempre que se vê em fria, recorre ao amigo aqui. Meu celular tocou e era Argentino, gritando do outro lado, imerso na multidão do Bloco da Velha: “Marcooossss... me ajudaaaaa! Yo perdí meu teléfono celular aqui na calle, chê!”, berrou ele, com seu portunhol irreproduzível por escrito. Sua fala era entrecortada por gritos de “alala-ô, ala-ô, ala-ô” emitidos ao redor, mas, mesmo assim, pude entender. E, ao mesmo tempo, não entender. Como assim, perdera o celular? Como então estava me telefonando?

“Ora, pedi emprestado (alala-ô, ala-ô) el teléfono de un amigo aqui... como es mismo su nombre, mí amigo? Ah, sim, o Ralphson! Diz aí alô (ooô-ô, oo-ô) pro meu amigo Marcos, Ralphson!”, e passou o celular para o Ralphson, que gritou de lá algo como “aaaaeeeeee... meuu feeeeraaaaa... tudo bemm, Márcioooooo.... eeeee aaaauueeee   aaaaalalaôôô-ô!”, o que relevei, pois estavam todos, naturalmente, inebriados pela alegria de Momo que, até então, não havia visitado a sala de minha casa. O que sucedeu, eu conto amanhã.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 9 de fevereiro de 2016)

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