segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Com o bloco na rua

Ô balancê, balancê! Quero dançar com você! Entra na roda, morena, pra ver! Ô balancê, balancê! Ao contrário do que possam pensar a briosa leitora e o circunspecto leitor, eu não sou daqueles que detestam Carnaval e que aproveitam os dias da folia que sacode o Brasil de ponta a ponta para resmungar contra os festejos de Momo e purgar raivas blasfemando, trafegando na contramão da alegria geral. Não sou nada contra o Carnaval. Sou, isso sim, contra eu mesmo durante o período de Carnaval.
Bumbum paticumbum prugurundum, o nosso samba, minha gente, é isso aí! O problema durante os dias de Carnaval é que eu me torno uma pessoa insuportável, praticamente inconvivível, e isso, mais do que aos que me cercam, oprime e atazana a mim mesmo. Isso porque tenho uma mente inexplicavelmente esponjosa para absorver refrões musicais. Assim, passo esses dias cantarolando refrões carnavalescos pela casa, no carro, nas calçadas, no clube e nos restaurantes. Não há quem me aguente. Pior: nada disso condiz com a manutenção da imagem de um respeitado cronista mundano. Melhor nem dizer nada a respeito.
Ei, você aí! Me dá um dinheiro aí! Me dá um dinheiro aí! Além do mais, todo ano prometo a mim e a terceiros que participarei de corpo presente do Bloco da Velha, esse já tradicional, bem-humorado, divertido e sadio evento cultural que toma as ruas de Caxias do Sul no Carnaval, porém, na hora “h”, acabo cedendo à inércia e fico em casa. Uma ausência que, segundo alguns amigos sensatos, vem garantindo o crescente sucesso da efeméride a cada ano. Há quem diga que me vê por lá fantasiado de outras pessoas, mas é boato.

Explode coração na maior felicidade, é lindo meu Salgueiro, contagiando e sacudindo esta cidade! Aí, no fim, resigno-me a comprar meia dúzia de latinhas de cerveja e me plantar no sofá da sala em frente à tevê para assistir aos desfiles das Escolas de Samba do Rio de Janeiro. Invariavelmente, durmo com a tevê ligada na metade do desfile da segunda escola e na metade da segunda latinha. Na quarta-feira de cinzas me recomponho, como todos os demais brasileiros, e, passado mais um Carnaval, estou pronto para retomar a luta pela vida na realidade nossa de cada dia. O Carnaval é democrático e tolerante (até mesmo comigo) e cada um festeja como quer, como sabe ou como pode. Uma tolerância e uma democracia que deveriam ser estendidas para outras esferas de nosso convívio social. No Brasil, país imaturo por natureza, até o Carnaval pode servir de exemplo.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 8 de fevereiro de 2016) 

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