segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

O copo quebrado

Quebrei um copo. Fui tentar pegar um coador que estava atrás do copo, no armário aéreo da cozinha e, ao invés de primeiro retirar da frente o copo, inventei de esgueirar o braço por cima e pelos lados e em ziguezague ao redor do copo e o óbvio aconteceu: ao puxar de lá de trás o coador, veio abaixo o copo estatelar-se sobre a pia e a quebrar-se em vários irremediáveis pedaços. Foi-se o copo devido a uma atitude estúpida. Minha. Minha culpa, minha máxima culpa.
O resultado, na maioria das vezes em que optamos por uma atitude estúpida, costuma ser justamente a catástrofe. É por isso que classificamos de estúpidas as atitudes que resultam em catástrofes evitáveis, como essa, de tentar pescar um objeto interposto por um copo e decidir seguir fazendo-o sem retirar antes o copo da frente. Ninguém se machucou e o prejuízo foi quase nulo, mas o fato é que eu gostava daquele copo. Muito saciou a minha sede aquele copo transparente de vidro, pelo qual eu nutria uma predileção especial na hora de tomar água, ou suco. Não gostei da maneira como deu-se o fim dele, especialmente por ter sido eu e minha estupidez os causadores de seu desaparecimento como copo. Triste imagem a do corpo do copo.
Também não levarei tamancadas devido à simples quebra do copo, que não buscarei omitir ou camuflar. A senhora minha esposa é compreensiva nesse quesito (ao menos, assim espero eu e imagino – torço – que assim também esperem os nobres leitores e as estimadas leitoras, afinal, era apenas um singelo copo, mas, por via das dúvidas, será que custa muito caro uma passagem urgente só de ida para Adis Abeba? Preciso consultar minha agente de viagens...). A questão é o simbolismo e o aprendizado que se pode tirar da equação é: atitude estúpida plenamente evitável = pequena catástrofe doméstica. Quantas vezes já fizemos ou ouvimos falar de gente que fez coisas assim que resultaram em problemas maiores do que a singela quebra de um copo?

Sempre que fazemos besteira, pensando em retrospecto, percebemos que desde o início poderíamos ter evitado o desfecho infeliz pois que, lá no fundo de nossas almas, aquela vozinha da sabedoria (o Grilo Falante que aconselhava Pinóquio) já estava a nos alertar desesperadamente que retirássemos o copo de vidro da frente do coador. Mas teimamos em não dar ouvidos e seguimos em frente em nossos desatinos diários. Enquanto o saldo se restringir a apenas um mísero copo quebrado, saímos no lucro. Mas a voz sempre está ali. O segredo reside em aprender a ouvi-la.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 15 de fevereiro de 2016)

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