“É preciso saber viver”, já dizia (cantava) Roberto
Carlos. Mas não só isso. Também é preciso saber viver de acordo com o que se
propõe a fazer na vida, digo eu, observando as atitudes do próprio Roberto
Carlos. É preciso conhecer seu próprio lugar no mundo, ter consciência de suas
metas e de como chegar a elas. Tendo a elas chegado, é preciso também saber
mantê-las e isso requer um exercício constante, sempre alerta, de
autoconhecimento e de atitudes coerentes. Viu só, madama, como é possível
aprender lições importantes somente observando atos de Roberto Carlos? É uma
brasa, mesmo, mora?
Como foi que eu cheguei a essas conclusões? Sim, a senhora
tem o direito de perguntar. E sempre é um prazer preenchê-la, madama, de
informações. Então, vamos aos fatos. Manhã dessas flagrei Roberto Carlos e seu
sorriso participando como convidado especial do programa de Ana Maria Braga na
televisão. Estavam em torno de uma farta mesa de café da manhã, o que aguçou as
atenções de minhas papilas gustativas e, atendendo a seu pedido (das
papilas),estacionei o controle-remoto por ali mesmo, para ver o que acontecia. Ana
Maria oferecia bolinhos e pãezinhos a Roberto, que gentilmente agradecia,
justificando que, de boca cheia, não poderia responder às perguntas dela e nem
cantar. Esperto, esse Roberto Carlos, pensei. Ligeiramente frustrada, Ana Maria
deixou no prato o bolinho que acabara de arrebanhar e chamou logo a entrada das
perguntas que a produção gravara com populares, direcionadas ao cantor.
E lá veio a primeira: “Roberto, qual a sua comida
favorita”? Opa! Também queria saber. Qual o rango favorito do Rei? O mistério
seria revelado ao vivo. Depois da risadinha tradicional, o artista, sem
pestanejar, respondeu: “Feijão, arroz e ovo frito”. Bingo, Roberto! Muito
esperto! Ao invés de vir com masterchefices esdrúxulas como paleta de cordeiro
ao molho de hortelã ou suflê de palmito com amoras, ele veio logo com um dos
mais típicos pratos da preferência nacional. Todos se identificaram de cara com
sua resposta. Roberto Carlos sabe que é um ídolo das massas (“Como, não era
feijão e arroz?”; não, madama, “massas”, aqui, usado no sentido de “povo”) e,
para se manter no posto, é preciso renovar constantemente a identificação com
seu público.
Até eu, que também sou massa, me identifiquei. Apenas
acrescentaria um bife como acompanhamento, mas aí já estaria elitizando o
cardápio, eu sei, e o Rei cuidou para não fazer isso. Roberto Carlos sabe estar
em sintonia com seu público. Prova é que nunca o vi ser olimpicamente vaiado em
estádios.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro, de Caxias do Sul, em 23 de agosto de 2016)
Nenhum comentário:
Postar um comentário