terça-feira, 23 de agosto de 2016

O cardápio da mesa do Rei

“É preciso saber viver”, já dizia (cantava) Roberto Carlos. Mas não só isso. Também é preciso saber viver de acordo com o que se propõe a fazer na vida, digo eu, observando as atitudes do próprio Roberto Carlos. É preciso conhecer seu próprio lugar no mundo, ter consciência de suas metas e de como chegar a elas. Tendo a elas chegado, é preciso também saber mantê-las e isso requer um exercício constante, sempre alerta, de autoconhecimento e de atitudes coerentes. Viu só, madama, como é possível aprender lições importantes somente observando atos de Roberto Carlos? É uma brasa, mesmo, mora?
Como foi que eu cheguei a essas conclusões? Sim, a senhora tem o direito de perguntar. E sempre é um prazer preenchê-la, madama, de informações. Então, vamos aos fatos. Manhã dessas flagrei Roberto Carlos e seu sorriso participando como convidado especial do programa de Ana Maria Braga na televisão. Estavam em torno de uma farta mesa de café da manhã, o que aguçou as atenções de minhas papilas gustativas e, atendendo a seu pedido (das papilas),estacionei o controle-remoto por ali mesmo, para ver o que acontecia. Ana Maria oferecia bolinhos e pãezinhos a Roberto, que gentilmente agradecia, justificando que, de boca cheia, não poderia responder às perguntas dela e nem cantar. Esperto, esse Roberto Carlos, pensei. Ligeiramente frustrada, Ana Maria deixou no prato o bolinho que acabara de arrebanhar e chamou logo a entrada das perguntas que a produção gravara com populares, direcionadas ao cantor.
E lá veio a primeira: “Roberto, qual a sua comida favorita”? Opa! Também queria saber. Qual o rango favorito do Rei? O mistério seria revelado ao vivo. Depois da risadinha tradicional, o artista, sem pestanejar, respondeu: “Feijão, arroz e ovo frito”. Bingo, Roberto! Muito esperto! Ao invés de vir com masterchefices esdrúxulas como paleta de cordeiro ao molho de hortelã ou suflê de palmito com amoras, ele veio logo com um dos mais típicos pratos da preferência nacional. Todos se identificaram de cara com sua resposta. Roberto Carlos sabe que é um ídolo das massas (“Como, não era feijão e arroz?”; não, madama, “massas”, aqui, usado no sentido de “povo”) e, para se manter no posto, é preciso renovar constantemente a identificação com seu público.

Até eu, que também sou massa, me identifiquei. Apenas acrescentaria um bife como acompanhamento, mas aí já estaria elitizando o cardápio, eu sei, e o Rei cuidou para não fazer isso. Roberto Carlos sabe estar em sintonia com seu público. Prova é que nunca o vi ser olimpicamente vaiado em estádios.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro, de Caxias do Sul, em 23 de agosto de 2016)

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