sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Sinceridade nas quatro linhas

Aluado como sou, não sabia que algumas modalidades esportivas começavam a ser disputadas alguns dias antes da abertura oficial dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, cerimônia que acontece na noite desta sexta-feira. Imerso na mais olímpica ignorância, acreditava que os atletas só começariam a suar as camisetas a partir deste sábado, quando, então, eu passaria os olhos pela programação a fim de elencar as modalidades de minha preferência, para acompanhar pela tevê algumas disputas de medalhas. Mas uma zapeada fortuita pelos canais no final da tarde de quarta-feira me obrigou a rever meus planos relativos ao sofá da sala.
Pulando de um canal a outro com a intenção de espairecer do trabalho e ver o que rolava no mundo exterior, deparei com o andamento do segundo tempo do jogo de estreia da Seleção Feminina Brasileira de Futebol, mandando ver em cima das chinesas. Ainda tentava entender o que estava vendo (desconfiava ser um teipe de partida antiga) quando presenciei a desconcertante pintura que foi o segundo gol das brasileiras, com Marta recuando um passe dentro da área adversária para a conclusão de Andressa Alves para dentro do gol, de chulapa, batendo na bola ainda no ar. Coisa de gente grande. Coisa de futebol bonito, com arte, classe, categoria. Coisa de arregalar os olhos de torcida favorável e adversária. Tive de continuar assistindo até o final, com a vitória brasileira por três a zero na estreia.
E que delícia está sendo assistir às partidas de futebol feminino! Depois ainda assisti a partes (intercaladas com a retomada dos trabalhos) das disputas entre Alemanha e Zimbábue (seis a um para as alemãs) e França e Colômbia (quatro a zero para as francesas). E descobri que é no futebol feminino que vou renovar meu prazer em assistir à prática do tradicional esporte bretão, tão maltratado ultimamente pelos representantes masculinos brasileiros da modalidade. É ali, no gramado ocupado pelas jogadoras, que volto a encontrar a beleza, a graça e a plasticidade desse esporte tão amado em todo o planeta.

Mas não é devido ao charme inerente às representantes do gênero, nada disso. Mas, sim. porque ali ainda impera o frescor da garra, da determinação, da vontade de vencer e de se superar, a entrega, o espírito de equipe e, especialmente, o amor à camiseta e a empatia com as torcidas dos países (e dos clubes) que representam em campo. No futebol feminino ainda detecto a existência de sinceridade. E isso faz toda a diferença em qualquer atividade a que os seres humanos se dediquem. Vamos lá, meninas, estou na torcida!
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 5 de agosto de 2016)

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