segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

A expertise do amador

Uma coisa é ser um amador; outra coisa é ser um enganador. Ambas as coisas diferem de ser um expert, e não é necessário que sejamos experts em tudo na vida. Podemos (e até devemos) ser experts em algumas coisas, especialmente naquelas relacionadas à atividade que escolhemos para ser nossa profissão. Aí, nessa área, nos cabe empreender todos os esforços no sentido de buscarmos incansavelmente a excelência, sim senhor, sim senhora, senhorita e senhorito.
Não podemos ser amadores (e muito menos enganadores) dentro do âmbito de nossa atividade profissional. Se escolhemos ser médicos, precisamos saber diferenciar baço de pâncreas (coloquem os dois órgãos à minha frente, um de cada lado, e sou capaz de oferecer ao público 100% de bola fora ao tentar identificar um e outro); se decidimos ser sapateiros, precisamos saber pregar um salto e recauchutar uma palmilha; se queremos ser jornalistas, precisamos saber escrever com correção e identificar o que é notícia; e assim por diante. É mister que busquemos excelência naquelas atividades que nos definem perante a sociedade.
Mas a coisa pode pegar mais leve quando se trata das atividades das quais nos aproximamos por simples afinidade diletante, o que pode ser traduzido e resumido como lazer, hobby, passatempo. Se não sou um churrasqueiro profissional e não trabalho em uma churrascaria, posso me dar ao luxo de colocar o avental e me fantasiar de churrasqueiro aos finais de semana, para júbilo, gáudio e saliva de meus amigos e familiares. E tudo bem se, eventualmente, minha tradicional picanha bem passada esturricar feito carvão vez que outra. Tudo bem vírgula, desde que haja à mão o número da telepizza, claro. Minha fama de assador não será abalada por um eventual deslizamento de competência (desde que o mico não se repita com frequência constrangedora).

Mas é aí, nessa esfera, na dos prazeres e brincares, que podemos nos largar ao luxo das eventuais incompetências, porque é ali que o erro pode revestir-se de humor. Ali. Só ali. Fora isso, é incompetência e, aí, não tem desculpa nem tapinha nas costas. Uma coisa é uma coisa e outra coisa é coisa outra, até barbeiro está careca de saber.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 27 de dezembro de 2014)

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