quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Do alto do cume

A vida é uma imensa sala de aula prática, pois que nos vai enfileirando lições a serem detectadas e aprendidas dia após dia, hora após hora. Se fosse exagerado, eu emendaria “a cada inspirada de ar” e ainda “a cada batida do coração”, mas deixemos de lado os exageros, que isso é também lição a ser aprendida, e das mais importantes.
O fato é que o aproveitamento das lições que a vida nos dá depende exclusivamente da capacidade que temos de refletir sobre elas e, também, de perceber quando se apresentam. Elas estão escondidas dentro do próprio ato de viver e talvez aí resida uma das funções mais importantes da memória: podermos lembrar de fatos passados e deles extrair lições para nosso cotidiano no presente.
Ontem, por exemplo, descobri que hoje, 11 de dezembro, é o Dia Internacional das Montanhas, estabelecido pela Unesco. Fiquei a pensar em montes, picos, colinas, cordilheiras, coxilhas e afins e de como essas formas do relevo estariam a celebrar sua data ao redor do planeta. Avesso a alturas como sou, evitei imaginar a mim mesmo no alto do Everest, do Himalaia ou dos Andes. Foi nisso que recordei que certa vez, décadas atrás, quando iniciava minha carreira jornalística em Candelária, aventurei-me junto a um grupo de amigos no propósito de escalarmos, em um domingo, o Cerro do Botucaraí, o pico isolado mais alto do Rio Grande do Sul, com 570 metros de altura. Só de lembrar, minha espinha gela, as mãos suam, o coração acelera.

O segredo, segundo uma amiga me disse na época, ainda ao pé do morro, é subir sem olhar para baixo. Foi o que fiz e, quando vi, estava lá em cima, com os outros, observando a maravilha da vista dali do alto. Problema foi a descida. Não tem como descer sem olhar para baixo. E aí, meus amigos, a porca torceu o rabo, porque foi quando aprendi que tudo é relativo, a começar pelos provérbios populares, como o que diz que “para baixo, todo santo ajuda”. A verdade é que a santaiada debandou de perto de mim quando iniciei a descida, mas enfim, cá estou, para contar a história. E para refletir sobre aprendizados do passado: tudo é relativo, a começar pelas frases feitas.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 11 de dezembro de 2014)

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