sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

O carnaval das agendas

Dezembro é o mês das agendas. Esquecidas ao longo dos demais onze meses do ano, colocadas a hibernar quietinhas no fundo dos balcões das papelarias, é no derradeiro mês do calendário que as agendas têm a oportunidade de despertar para a vida e fazem o seu carnaval.
Basta entrar dezembro que agendas passam a saltar indiscriminadamente em nossos colos, vindas de todos os lados. Agendas com capa de couro, agendas simples e agendas elegantes, agendas temáticas, agendas literárias, agendas com informações, agendas grandes, pequenas, médias, com pesos e medidas, com a conversão de moedas, com os dias da semana em inglês e espanhol (algumas até em alemão), agendas permanentes, agendas impermanentes, agendas com páginas em branco para anotar pensamentos profundos, agendas-diários, agendas com marcador, sem marcador, espiraladas ou em brochura, ecológicas com papel reciclado, infantis com desenhinhos fofos, empresariais sóbrias e respeitáveis, agendas ao gosto de cada freguês, em suma.
Eu fico faceiro nesta época do ano, porque me confesso um agendólatra assumido: sou viciado e dependente das agendas. Atingi tal ponto de dependência que preciso lançar todo e qualquer compromisso nas páginas da agenda, para que me lembre de cumpri-los. Se não está na agenda, esqueci. Se lancei na agenda, tenha a certeza de que cumprirei o compromisso. Não chego ao ponto de anotar lá tarefas prosaicas do dia-a-dia como escovar os dentes, tomar banho, pentear o cabelo, jantar, porque são coisas que aprendi a fazer ainda antes de me alfabetizar e de precisar de agendas. Mas não irei à dentista se isso não estiver apontado na agenda. Não pagarei as contas, não trocarei o óleo do carro, não comparecerei às reuniões, não felicitarei conhecidos pelos aniversários, essas coisas todas. Desagendado, eu não sou eu. Então, que venham as agendas! E elas vêm mesmo.

Mas vem cá, isso de coisas impressas em papel, não estava com os dias contados para acabar? Volumes físicos tácteis nos quais se lê e se escreve com canetas, não era coisa do passado? Pois é, vai ver que esqueceram de agendar essa extinção...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 12 de dezembro de 2014)

Nenhum comentário: