segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Nas ondas do mar

Informes vindos de todos os lados me dão ciência de que o litoral já anda apinhado de veranistas, nem bem entrado dezembro. O calor, o tempo firme (ao menos, enquanto redijo essas digitadas linhas), o clima natalino, a vontade de começar logo os rituais de encerramento do ano, a brisa que se transforma no nordestão mas tudo bem, o copo de caipirinha gelada vendido a preço de garrafa inteira de vodca mas tudo bem também, o cheirinho irresistível do milho cozido, o guarda-sol que sai voando, o cachorrinho tão fofinho da moça que desfila atrás dele seu bronze em fio-dental e que a gente finge que não vê, a barriga branca do senhorzinho enfiado na bermuda que a gente faz questão de não ver mas acaba vendo, a profusão de chinelos-de-dedo, a correria da criançada, o barulho do mar... ah, o mar... o mar, o mar.
Tudo isso já está rolando a poucos quilômetros daqui e eu ainda mergulhado em afazeres, em trabalhos a concluir, em prazos a cumprir, compras a fazer, contas a pagar, demandas a resolver, óleo do motor do carro a trocar, lista de presentes a solucionar, pendências a concluir, coisinhas aqui, coisonas acolá, mas a mente, a alma, o espírito e as vontades todas direcionadas às areias, essas mesmas que tocam o nosso litoral gaúcho, sempre tão desmerecido quando comparado ao resto do país, mas que todos os anos faz a alegria de tantos de nós, fielmente, com o nordestão e o pacote todo. Ah, o mar, o mar...
Às vezes fico pensando que seria mais fácil suportar essa distância se ao menos chovesse por aqui (mas não na praia, não sou estraga-prazeres e nem invejoso), pois, assim, eu não seria invadido minuto a minuto por esse clima praiano de sol, calor e brisa que permanece no meu entorno urbano de trabalho enquanto fico pensando no mar, no mar, no mar... No doce-salgado barulho do mar, nas ondas do mar, nas conchas do mar, nas areias e sereias do mar, do mar, do mar...

Se ainda não posso estar lá, ao menos inundo meus ouvidos com esse balanço de um mar imaginário. É o estímulo que necessito para solucionar as demandas e logo mais, ali adiante, molhar meus pés no mar, no mar...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 8 de dezembro de 2014)

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