terça-feira, 16 de dezembro de 2014

O cara não era o cara

A lembrança mais remota que tenho de meus contatos com o Papai Noel me reconduz a dezenas de anos passados, quando eu devia ter uns cinco ou seis anos de idade e morava na Rua dos Viajantes, em Ijuí. Coisas estranhas e maravilhosas aconteciam na Rua dos Viajantes em Ijuí naquela época, e essa foi uma delas.
A informação de que Papai Noel faria uma visita ao nosso lar na noite de Natal foi sendo revelada aos poucos para mim e minha irmã pelos meus pais, enquanto o clima natalino ia se instalando pela casa a partir da metade de dezembro. Falava-se em bom comportamento como requisito fundamental para receber de Papai Noel os presentes que tanto almejávamos (eu queria uma bicicleta Caloi e minha irmã desejava uma boneca Suzy, creio). A expectativa, portanto, era grande.
Naquela época era usual as famílias adquirirem pinheirinhos de verdade e instalá-los dentro de uma caixa de metal a um canto da sala, ao pé do qual montávamos o presépio. Passávamos dias ajudando nossos pais a ornamentar os espinhudos galhos do pinheiro com os enfeites coloridos que reapareciam das caixas guardadas a sete chaves pelos adultos. No jardim da infância, produzíamos enfeites artesanais com cartolina e palitos de fósforo, que obtinham lugar de destaque na árvore. Assim, o clima natalino se estabelecia, embalado com a trilha sonora de discos de vinil que iam sendo tocados com Jingle Bells, Noite Feliz e outras canções similares.

Aí então, na noite de Natal, chegou Papai Noel, o tão esperado visitante, carregando nas costas um saco de estopa do qual foi retirando presentes. Lembro de quando cheguei perto dele e percebi que se tratava de uma pessoa usando uma máscara, o que me causou certa estranheza.     “Ué, esse Papai Noel não é o verdadeiro, mas sim um homem fantasiado”, pensei. De qualquer forma, não disse nada, peguei meus presentes e saí. Em momento algum duvidei ali da existência de Papai Noel. Apenas, aquele que viera não era o próprio, ok, sem problemas. Afinal, ali, na Rua dos Viajantes, a fantasia tinha primazia e não era uma máscara que colocaria tudo por terra. A prioridade era seguir sendo feliz. Magias do Natal.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 16 de dezembro de 2014)

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